Dados do Trabalho
Título
Colangiopatia: uma nova entidade em pacientes com Covid-19 ou uma antiga doença de pacientes críticos?
Resumo
A doença pelo novo coronavírus (Covid-19), trouxe oportunidade para conhecermos melhor a Colangite Esclerosante Secundária do Paciente Crítico. O objetivo do estudo foi descrever as características da colestase que pode surgir após internação crítica em unidade de terapia intensiva (UTI) por Covid-19 grave e sua evolução. Trata-se de estudo observacional, multicêntrico no Brasil, descritivo. A inclusão foi consecutiva de casos de colestase persistente pós-Covid-19 grave. Estudo aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, parecer número 4.944.826 de 31.08.2021. Resultados: Foram acompanhados 35 participantes (65,7% homens), com idade de 35 a 78 anos, por uma mediana de 444 dias. Nenhum apresentava hepatopatia prévia, exceto poucos casos de esteatose sem acompanhar-se de sinais de fibrose. Outras causas de colestase crônica acentuada foram afastadas. A infecção pelo SARS-CoV-2, confirmada por teste molecular, ocorreu nesta série entre 20/09/2020 e 23/09/2021 e foi precedida por nenhuma ou única dose de vacina. Todos tiveram Síndrome da Angústia Respiratória Aguda, exigindo UTI prolongada (mediana: 38 dias); ventilação mecânica com fração inspirada de oxigênio maior que 80%; pressão expiratória final positiva (PEEP) acima de 10 cmH2O; uso de drogas vasoativas; sedação prolongada com ketamina (mediana: 14 dias). A alteração da bioquímica hepática foi bimodal: precoce, moderada, de resolução rápida e frequente das aminotransferases versus alteração acentuada e persistente das enzimas colestáticas, apesar do uso do ácido ursodesoxicólico. O diagnóstico foi corroborado por colangiorressonância e/ou colangioendoscópica e/ou biópsia hepática com alterações de vias biliares intra-hepáticas, predominantemente à esquerda. As alterações histológicas variaram em intensidade: proliferação ductular, distrofia de ductos biliares, infiltrado inflamatório leve a moderado, colestase parenquimatosa e metaplasia biliar de hepatócitos. A doença é espectral, evoluindo com hipertensão portal (40%), necessidade de transplante ou óbito em um terço dos casos. Os pacientes que mantiveram os níveis mais elevados de bilirrubinas na evolução, tiveram pior prognóstico (p<0,05). Conclusão: A isquemia, pela própria gravidade da doença, associada às medidas para manter a vida, que acabam por reduzir o fluxo esplâncnico (pronação, PEEP alto, vasoconstrictores), exacerbada pelo uso contínuo de ketamina, parece ser a protagonista da Colangiopatia pós-Covid-19 e não o vírus ou outras drogas.
Área
Gastroenterologia - Fígado
Autores
Valéria Ferreira de Almeida e Borges, Helma Pinchemel Cotrim, Liliana Sampaio Costa Mendes, Lucas Sicinato Silva, Júlia Esteves Guerra , Clicia Milena dos Santos , Victor Pereira Chaves , Edmar Silva de Araújo Júnior , Francisco Guilherme Cancela e Penna , Claudia Lemos da Silva