Dados do Trabalho
Título
Ampulectomia transduodenal e a adaptação cirúrgica focada no paciente: um relato de caso
Resumo
O avanço do conhecimento médico tem proporcionado uma terapêutica cada vez mais individualizada, considerando as singularidades e limitações de cada paciente. O relato a seguir vem ilustrar essa nova perspectiva.
Paciente feminina, 83 anos, sem comorbidades, abriu quadro de icterícia progressiva desde março de 2022 com perda ponderal de aproximadamente 15% em 2 meses. Em investigação endoscópica foi visualizada lesão ulcerada a nível de papila duodenal de 2 cm de diâmetro. No estadiamento não foram encontradas lesões à distância ou em contiguidade. Laudo histopatológico mostrou tumor neuroendócrino de papila grau III (Ki67: 70%). Esse diagnóstico indicaria uma duodenopancreactomia (DP). Porém, ao avaliar o status nutricional da paciente, sua condição clínica, porte da cirurgia e potenciais morbidades pós-operatórias, foi decidido por um tratamento cirúrgico mais conservador, sendo escolhida a ampulectomia transduodenal (AT).
Essa técnica resume-se à ressecção da Ampola de Vater, com margens de 0,5 cm e alcance da muscular do duodeno. Expõe-se então a confluência do Wirsung e colédoco. Seguiu-se com confecção de anastomose biliodigestiva em mucosa duodenal com pontos separados de PDS (no Wirsung) e com Vycril (no colédoco). Realizada ainda colecistectomia de oportunidade (por colelitíase).
Não houve intercorrências no transoperatório. Paciente foi de alta em seu 12° PO, com resultado de biópsia compatível com adenocarcinoma moderadamente diferenciado com aspectos histomorfológicos de tumor neuroendócrino. Não apresentou queixas clínicas ou complicações em seu seguimento ambulatorial até set/2022.
Tumores de papila são raros, constituindo 0,5% dos tumores do trato gastrointestinal. Podem se apresentar clinicamente com icterícia e dor abdominal. Estudo realizado em um grande centro, incluindo 128 pacientes com tumores malignos de papila, mostrou que 6 foram diagnosticados como neuroendócrinos. A DP é apontada como opção de escolha para tratamento de tumores malignos. Porém, em casos selecionados, a AT mostrou taxas de sobrevida globais similares à DP, com uma morbidade significativamente menor e baixas taxas de recorrência local. A AT se mostrou oncologicamente segura para tumores neuroendócrinos grau l e tumores precoces (Tis e T1) e um bom procedimento para pacientes sem performance para DP.
Este é um bom caso para refletir sobre o papel da cirurgia adaptada ao paciente e a importância de eleger critérios que equilibrem princípios oncológicos e status clinico.
Área
Cirurgia - Miscelânea
Autores
Isabelle Meneses da Ponte, Marcelo Leite Vieira Costa, Renato Mazon Lima Verde Leal, Isabele Maria Jorge de Freitas, Davi Teixeira de Macêdo, Aron Abib Castro Aguiar, Pedro Hugo Gouveia Azevedo dos Santos, Danielle Andrade Mota, Ana Eloisa Nóbrega Araújo , Matheus Couto Furtado Albuquerque, Renan Bezerra de Oliveira, Juarez Juca de Queiroz Neto