XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Doença de Crohn no idoso – um diagnóstico que não pode ser esquecido

Resumo

Apresentação do caso: Sexo feminino, 65 anos, previamente hígida, deu entrada no pronto atendimento referindo diarreia mucossanguinolenta, com cerca de 7 evacuações diárias, aftas orais e perda ponderal de 15 kg nos últimos 40 dias. Negava febre ou uso de medicamentos. À admissão, apresentava-se com desconforto abdominal e provas laboratoriais demonstrando Hb 7,5g/dL e proteína C reativa 86,5 mg/L; radiografia de abdome excluiu megacólon tóxico. Iniciou-se terapia com hidrocortisona e antibioticoterapia intravenosa, sem melhora clínica significativa. Pesquisa de toxinas para Clostridioides difficile resultou negativa, e retossigmoidoscopia flexível revelou múltiplas úlceras serpiginosas em reto e sigmóide, sugestivo de doença de Crohn (DC), cujas biópsias evidenciaram reação citopática viral e pesquisa de citomegalovírus positiva. Iniciou-se, terapia com ganciclovir, porém sem resposta clínica. Realizou-se rastreio pré-biológico, com início de infliximabe dose indução acelerada com 10mg/kg. Após 2 dias do início do biológico, paciente evoluiu com enterorragia volumosa e choque hemodinâmico, necessitando de colectomia subtotal de urgência, com confecção de ileostomia terminal. Anatomopatológico exibiu mucosa colônica com intenso processo inflamatório crônico, com ulcerações, hiperplasia linfoide reacional e congestão vascular. Ambulatorialmente, manteve-se uso de infliximabe 5 mg/kg a cada 8 semanas e mesalazina retal por retite de desuso, aguardando reconstrução de trânsito, mantendo remissão clínica e estabilidade laboratorial. Discussão: Observa-se aumento na incidência e prevalência da DC em países recém industrializados, como o Brasil, nos últimos anos. O diagnóstico da DC em pacientes acima de 60 anos é frequentemente desafiador, em virtude das comorbidades dos pacientes e variedade de diagnósticos diferenciais, incluindo a colite isquêmica, muito comum nessa faixa etária. Nessa população, a DC costuma se apresentar com mais sangramento retal e menos diarreia e dor abdominal. A infecção por CMV, apesar de ser um diagnóstico diferencial das doenças inflamatórias intestinais (DII), pode ser um marcador prognóstico de doença mais grave, inclusive com aumento do risco de colectomia na colite aguda grave, como no caso relatado. Comentários finais: A prevalência da DII tem aumentado na população idosa nos últimos anos. Gastroenterologistas devem ficar atentos a diagnósticos diferenciais, a fim de evitar tratamento inadequado e retardo no diagnóstico.

Área

Gastroenterologia - Intestino

Autores

Lohrane Rosa Bayma, Felipe Ferreira Ribeiro Souza, Júlia Carvalho Andrade, Lucas Fortes Portela Ferreira, Maria Josefina Viteri, Matheus Spadeto Aires, Raquel Yumi Sakamoto, Karoline Soares Garcia, Matheus Freitas Cardoso Azevedo