XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Pâncreas divisum: anomalia congênita como possível causa de pancreatite aguda recorrente.

Resumo

Apresentação do caso: Mulher, 68 anos, há 3 dias com dor em andar superior do abdome, irradiando para dorso, intensidade 9/10, associada a náuseas e vômitos. História prévia de pancreatite aguda (PA), 3 episódios em 2008, 2019 (com necrose 30% a 50%) e 2022. Negava história familiar de pancreatites. Ao exame físico: regular estado geral, desidratada, dispneica e com dor a palpação difusa de abdome. Aos exames admissionais: leucocitose de 17.000, proteína C reativa de 73, amilase de 603 e lipase de 627. Prescrito jejum, hidratação endovenosa vigorosa e analgesia. Em ultrassom e ecoendoscopia vesícula biliar sem alterações e, em tomografia, após 72 horas, edema pancreático difuso com densificação de planos adiposos. Em revisão de colangiopancreatografia por ressonância magnética de 2019, notou-se ducto dorsal dominante drenando acima do colédoco, na papila menor compatível com diagnóstico de Pâncreas Divisum (PD). A paciente evoluiu com melhora do quadro com tratamento conservador, e optou-se por esfincterotomia endoscópica eletiva devido a gravidade e recorrência de sintomas. Discussão: Entre as anomalias congênitas do ducto pancreático, o PD é a mais comum e acomete até 10% da população, mas cerca de 95% são assintomáticos. O PD ocorre por falha embrionária na fusão entre a porção ventral e a dorsal, nesta situação um volume maior de secreção pancreática deve escoar pela papila duodenal menor. Há controvérsias acerca da influência do PD como causa de PA, ficando como possível etiologia, assim como ocorre com outras variações anatômicas ductais, após serem excluídas causas mais frequentes como cálculos, microcálculos, hipertrigliceridemia, medicamentos e outras. O tratamento do PD deverá ser individualizado de acordo com a clínica e frequência de sintomas. Para PD incidental, deve-se manter o acompanhamento. Se sintomas leves: analgésicos, anticolinérgicos, dieta hipogordurosa e, se preciso, enzimas pancreáticas. Em casos de sintomas frequentes e maior gravidade, pode-se optar primeiramente pela terapia endoscópica com a esfincterotomia da papila menor e raramente cirurgia. Comentários finais: Em decorrência do impacto direto na qualidade de vida desta paciente e na ausência de outra etiologia optamos por tratar com esfincterotomia endoscópica. O PD pode ser considerado causa de PA em casos de pancreatite aguda ou crônica sem causa evidente e tratadas de forma individualizada.

Área

Gastroenterologia - Pâncreas e Vias Biliares

Autores

Larissa Moraes Oliveira, Thaís Silva Ribeiro, Carla Moura Fé Elias, Marcelo Veras Tavares, Carlos Fischer de Toledo, Renato Duffles Martins