Dados do Trabalho
Título
Dispepsia em paciente com doença de Crohn - Devemos suspeitar de acometimento de trato gastrointestinal superior?
Resumo
Apresentação do Caso: Paciente de 25 anos, sexo masculino, iniciou seguimento em hospital
universitário em maio de 2021 devido à diarreia há 1 ano. Referia 10 a 12 evacuações diárias,
pastosas a líquidas, com tenesmo, dor abdominal, sangue e muco. Notou febre esporádica, de
até 38 graus, bem como perda de 23% do seu peso (atual: 57kg; índice de massa corpórea –
IMC – 18,6kg/m2) relacionada à inapetência e empachamento pós-prandial, restringindo sua
dieta a alimentos líquidos e pastosos. Previamente, procurou atendimento em outro serviço,
recebendo diagnóstico de doença de Crohn (DC) ileocecal e colônica extensa. Estava em uso
de mesalazina 2.400mg/dia e azatioprina 150mg/dia há 6 meses, sem melhora sintomática.
Negou uso de outras medicações e comorbidades adicionais.
Feitos exames laboratoriais – normais, sem anemia, distúrbios hidroeletrolíticos ou carenciais.
Submetido à endoscopia alta, que revelou úlcera pilórica circunferencial, com estenose,
deformidade e difícil passagem do aparelho. Biópsia compatível com doença de Crohn em
atividade.
Iniciado infliximabe que, após indução, promoveu remissão da diarreia, mas sem efeito no
empachamento, com perda adicional de mais 10% do peso em 2 meses. Tentou-se otimização
medicamentosa até dose máxima e dilatação endoscópica com balão pneumático – estratégias
infrutíferas, com adicional perda ponderal. Optado por cirurgia derivativa
(gastroenteroanastomose em Y de Roux), com bom resultado imediato e a longo prazo. 6
meses após abordagem, paciente atingiu em remissão clínica, laboratorial e IMC de 20kg/m2.
Discussão: A DC é uma enfermidade crônica, que se manifesta em qualquer idade, mais
comumente em adultos jovens. Pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal,
principalmente íleo, cólon e região perianal. O acometimento do trato gastrointestinal
superior (TGIS), é raro (13% dos casos), mais grave e com maiores taxas de complicações, o
que em grande parte se deve à clínica inespecífica (como no caso exposto) ou assintomática
(62,5%), retardando o diagnóstico.
A DC de TGIS é fator de risco independente para cirurgia e hospitalização: até 20% dos
pacientes irão necessitar de abordagem cirúrgica e tratamento mais intensivo, a fim de tentar
evitar danos irreversíveis.
Comentários finais: O objetivo do relato é o de destacar a DC de TGIS, devendo-se ter sempre
alta suspeição, procurando-se ativamente a doença, visto fenótipo grave, com maior risco de
complicações e cirurgias.
Área
Gastroenterologia - Intestino
Autores
Beatriz Durlacher Arantes de Souza, Eloy Vianey Cavalho de França, Maria Julia Gabriela Colossi, Fernanda Bocchi Monteiro, Gisele Conte Alves Fernandes, Amanda de Lacerda Clevelario, Luíza Dias Torres, Guilherme Hoverter Callejas, Priscila Baptistella Lodo, Thaianne da Cunha Alves, Amanda Avesani Cavotto Furlan, Cibele Foloni Tessarolli, Xiaoxin Wu, Glaucia Fernanda Soares Ruppert Reis, Cristiane Kibune Nagasako Vieira Cruz