Dados do Trabalho
Título
Diarreia crônica secundária a infecção oportunista e Síndrome da Imunodepressão Adquirida (SIDA) mimetizando Doença Inflamatória Intestinal
Resumo
Apresentação do caso: Homem, 41 anos, iniciou em março de 2020 quadro de diarreia pastosa (3 episódios ao dia) sem produtos patológicos, perda ponderal de 15kg e pirose retroesternal. Apresentou piora em janeiro de 2022, com diarreia líquida com muco e sangue. Encaminhado para serviço externo e, após análise de exames, foi aventada hipótese de retocolite ulcerativa (RCU) e doença do refluxo gastroesofágico. Iniciado então aminossalicilato por via oral, inibidor de bomba de prótons e antibiótico. Negava alívio com medidas iniciais e, após retorno, associou-se mesalazina via retal e ciclo com corticoide oral. Mantinha sintomas apesar dos medicamentos usados. Buscou serviço de referência terciário, apresentando, à internação, diarreia líquida (>10 episódios por dia) com muco e sangue, astenia, dor abdominal e febre. Realizados exames admissionais com proteína C reativa de 28, hipocalemia de 3 e albumina de 3, sem outras alterações laboratoriais. Solicitado parasitológico de fezes, coprocultura e pesquisa para Cryptosporidium Sp. e Isospora belli, todos negativos. Após realização de sorologias, constatou-se um anti-HIV reagente, CD4 53 e carga viral superior a 20.000 cópias. Em colonoscopia realizada neste serviço evidenciava ileíte erosiva terminal e pancolite ulcerativa, biópsias seriadas mostraram inclusões citoplasmáticas de citomegalovírus e, em endoscopia digestiva alta, candidíase esofágica. Após iniciada terapia antirretroviral, Fluconazol e Ganciclovir, paciente evolui com remissão total do quadro. Discussão: Há uma polêmica na literatura acerca da influência da SIDA na resposta imunológica da doença inflamatória intestinal (DII). Alguns autores advogam que, por se tratar de “extremos imunológicos”, a resposta inflamatória seria menos agressiva e o curso natural, mais indolente. No entanto, novos estudos demonstram que o HIV pode aumentar a expressão de citocinas como TNF, que são especialmente mais altos naqueles com SIDA, assim como o vírus pode se ligar à integrina α4β7 e se disseminar para os tecidos da mucosa, aumentando a infectividade, implicando, portanto, na patogênese da DII, o que leva a considerarmos tal diagnóstico como diferencial dentre os inicialmente aventados. Comentários finais: A doença diarreica no HIV pode acometer até 95% dos pacientes que vivem em países em desenvolvimento. Etiologias infeciosas, neoplásicas e autoimunes devem ser sempre investigadas tendo em vista sua multiplicidade diagnóstica e elevada morbidade.
Área
Gastroenterologia - Intestino
Autores
Larissa Moraes Oliveira, Thaís Silva Ribeiro, Carla Moura Fé Elias, Marcelo Veras Tavares, Orlando Ambrogini Júnior