Dados do Trabalho
Título
RELATO DE CASO: ENTEROPATIA POR OLMESARTANA – IMPORTANTE PENSAR PARA DIAGNOSTICAR
Resumo
Mulher, 63 anos, hipertensa, diabética e dislipidêmica em uso, há 2 anos, de metformina, insulina, estatina, olmesartana e anlodipino. Iniciou, há 5 meses com diarreia até 20 vezes/dia, fezes aquosas com restos alimentares, sem muco, pus ou sangue, ocorria inclusive no jejum, perda ponderal 21 kg, dor abdominal em cólica, vômitos e déficits nutricionais (B12, ácido fólico, magnésio, potássio e hipoalbuminemia). Realizou colonoscopia que descrevia hiperemia de mucosa de cólon ascendente e ceco com anátomo patológico mostrando inflamação leve e inespecífica, já em uso de mesalazina sem melhora. Sob hipótese diagnóstica de Síndrome disabsortiva foram realizadas sorologias para HIV e doença celíaca, avaliação de hormônios tireoidianos, parasitológico de fezes e coprocultura, pesquisa de toxina A e B do Clostridium, elastase fecal e, provas de atividade inflamatória com normalidade para todos esses exames. Realizou endoscopia digestiva alta e nova colonoscopia que foram normais. Biópsias de exames endoscópicos evidenciaram atrofia de vilosidades duodenais e infiltrado eosinofílico enteral difuso. Enterotomografia e tomografia de abdome eram normais. Foram então suspensos todos os medicamentos em uso, iniciada hidratação e correção dos déficits nutricionais e, após 5 dias, apresentou regularização progressiva do padrão intestinal, sendo que no 12º dia normalizou eletrólitos e recebeu alta hospitalar. Em seguimento, teve recuperação ponderal e nutricional progressivas. No 8º mês, foram repetidas EDA e colonoscopia e biópsias seriadas, com normalização das alterações microscópicas. Pela resposta clínica e histopatológica sem terapêutica específica, exceto pela suspensão da olmesartana e metformina (essa última foi retomada na alta, sem recorrência de diarreia), diagnosticou-se enteropatia por olmesartana. A enteropatia por olmesartana é descrita como causa de disabsorção em população já em risco para outras etiologias orgânicas: colite isquêmica, microscópica e neoplásica. É relatada como “celíaca-like”, por ocorrer atrofia vilositária duodenal. Deve-se ter atenção a esse diagnóstico diferencial que pode ser difícil, particularmente em pacientes com polifarmácia. Pode ser causa de importante morbidade como no caso descrito e pode ter excelente evolução após a suspensão da droga. Salienta-se possibilidade de ocorrência da enteropatia também com outros anti-hipertensivos de mesma classe, inclusive pela losartana, um dos principais medicamentos utilizados no Brasil.
Área
Gastroenterologia - Intestino
Autores
Claudia Carolina Gomes Ferreira, Cristiane Azevedo Alves, Abadia Gilda Buso Matoso, Valéria Ferreira de Almeida Borges, Clícia Milena dos Santos, Victor Pereira Chaves, Lucas Sicinato Silva, Guilherme Marques Andrade, Juliana Salomão Daud, Nestor Barbosa Andrade