Dados do Trabalho
Título
Análise comparativa entre escores prognósticos na hepatite alcoólica
Resumo
Introdução: A hepatite alcoólica (HA) constitui forma grave de apresentação da doença hepática alcoólica, evoluindo com altas taxas de mortalidade. Há controvérsias sobre a escolha ideal dentre os diversos escores prognósticos e sobre as opções de tratamento, particularmente nos indivíduos não respondedores à corticoterapia. Objetivo: Em indivíduos hospitalizados com HA: 1) avaliar a prevalência e evolução da HA grave (HAG); e 2) comparar os desempenhos preditivos dos principais escores prognósticos. Método: Estudo analítico prospectivo que incluiu pacientes com diagnóstico de HA (critérios do NIAAA Alcoholic Hepatitis Consortia), hospitalizados em dois centros de referência. Os escores avaliados foram: função discriminante de Maddrey (MDF), MELD, ABIC e GAHS. HAG foi definida como MDF>=32, MELD>=21, ABIC>=9 ou GAHS>=9. Foram analisadas as taxas de mortalidade hospitalar (MH) e de mortalidade em 28 dias (M28d), em 3 meses (M3m), em 6 meses (M6m) e em 12 meses (M12m). Resultados: Foram incluídos 90 pacientes, 93% homens, idade 50,1±9,3 anos, 16% com história de uso de outras drogas, cirrose em 82% e 69% com varizes esofagogástricas. À admissão, foram observadas: ascite (50%), encefalopatia (40%), infecções bacterianas (IB; 41%), lesão renal aguda (39%), síndrome de abstinência (30%), hemorragia varicosa (19%), hipotensão arterial (14%) e SIRS (39%). As prevalências de HAG variaram conforme o escore (MDF=78%, MELD=66%, ABIC=31% e GAHS=47%). As taxas de MH, M28d, M3m, M6m e M12m foram 27%, 24%, 35%, 45% e 64%, respectivamente. A M28d foi significativamente maior nos pacientes com IB à admissão (39% vs. 12%; p=0,005). Corticoterapia foi usada em 43% dos casos, sem impacto na M28d (17% vs. 29%; p=0,183). As AUROCs dos escores para predizer M28d foram similares (MDF=0,687, IC95% 0,543-0,832; MELD=0,743, IC95% 0,608-0,877; ABIC=0,736, IC95% 0,595-0,877; GAHS=0,527, IC95% 0,374-0,680). As taxas de M28d variaram conforme os escores MELD (<21: 10% vs. >=21: 31%; p=0,035) e ABIC (<9: 14% vs. >=9: 44%; p=0,003), mas não de acordo com os escores MDF (<32: 17% vs. >=32: 26%; p=0,542) e GAHS (<9: 21% vs. >=9: 26%; p=0,608). Conclusão: A mortalidade da HAG é elevada e comparável à dos estudos internacionais. A escolha do escore de gravidade influencia significativamente na identificação de HAG, o que pode impactar na indicação de corticoterapia. Os escores MELD e ABIC parecem exibir melhor desempenho prognóstico em comparação com os demais.
Área
Gastroenterologia - Fígado
Autores
Talles F. Renon, Fernanda C. Chaves, Talita R. A. Silva, Bruna R. C. Silva, Maria Fernanda A. B. Braga, Janaína S. Fonseca, Sarah S. T. Rodrigues, Nathália R. Furtado, Maria Amélia S. Ohashi, Marcela F. Campiolo, Carolina F. M. G. Pimentel, Ana Cristina C. Amaral, Janaína L. Narciso-Schiavon, Leonardo L. Schiavon, Roberto J. Carvalho-Filho