XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Desafio diagnóstico na doença de Crohn de delgado: “nem tudo que reluz é ouro”

Resumo

APRESENTAÇÃO DE CASO: Paciente masculino, 42 anos, iniciou quadro de cólicas abdominais, vômitos e perda ponderal há 18 meses. Exames laboratoriais evidenciaram anemia, com deficiência de vitamina B12 e ferro, além de proteína-C-reativa elevada. Na investigação diagnóstica, realizou enterotomografia com espessamento parietal e hiperrealce mucoso em segmentos descontínuos do íleo, sugestivos de Doença de Crohn (DC) ativa e estenosante. Endoscopia digestiva alta e ileocolonoscopia sem alterações. Encaminhado à avaliação cirúrgica por acreditar-se ser a melhor opção perante ao acometimento estenosante avançado e à necessidade de avaliação histológica. Paciente evoluiu com parada da eliminação de fezes e flatos, associada à dor abdominal intensa, sendo submetido à laparotomia exploradora. Realizado enterectomia segmentar do íleo distal com confecção de ileostomia. O anatomopatológico evidenciou infiltração transmural por Linfoma Não-Hodgkin difuso de grandes células B. Submetido a quimioterapia, evoluiu com resolução dos sintomas e controle radiológico (PET-TC) sem sinais de neoplasia. DISCUSSÃO: O envolvimento isolado de delgado na DC acomete até um terço dos pacientes. Nesses casos, o diagnóstico definitivo torna-se desafiador pela necessidade de estudo histológico da mucosa intestinal. A enteroscopia com biópsias dirigidas constitui método endoscópico de escolha. A cápsula endoscópica pode ser útil e auxilia na indicação da via de enteroscopia, entretanto está contraindicado na doença estenosante. Contudo ambos os exames possuem baixa disponibilidade no Brasil. Lesões inflamatórias do intestino delgado possuem como diagnósticos diferenciais neoplasias, infecções, enterite por drogas, doenças vasculares e autoimunes. Dentre essas, destaca-se o linfoma primário do TGI, sendo o delgado o local de origem em 15–25% dos casos. Os linfomas de delgado manifestam-se como segmentos espessados únicos e, em apenas 15-20%, múltiplos. O tratamento baseia-se em quimioterapia, com abordagem cirúrgica reservada para complicações, como obstrução ou perfuração. COMENTÁRIOS FINAIS: A DC restrita ao intestino delgado é um diagnóstico desafiador por se associar a um curso mais grave e pela variedade de diagnósticos diferenciais, principalmente quando há limitação de avaliação histológica das áreas acometidas. O caso alerta os gastroenterologistas para considerarem, na investigação de estenoses de delgado, doenças de apresentação similar à DC, inclusive com potencial curativo.

Área

Gastroenterologia - Intestino

Autores

Álvaro Henrique Almeida Delgado, Matheus Spadeto Aires, Karoline Soares Garcia, Alexandre de Sousa Carlos, Adérson Omar Moura Cintra Damião, Matheus Freitas Cardoso de Azevedo