Dados do Trabalho
Título
Manejo do hipotireoidismo na doença celíaca com levotiroxina retal – Relato de caso
Resumo
APRESENTAÇÃO DO CASO: Paciente de 40 anos, sexo feminino, com histórico de tireoidectomia total por bócio multinodular há 11 anos, transtorno depressivo e obesidade, deu entrada no ambulatório de Gastroenterologia com quadro de diarreia crônica (3 a 4 evacuações líquidas por dia) e bloating de início há 4 anos. Vinha em uso oral de levotiroxina (LT4) 400 mcg/dia, amitriptilina e suplementos polivitamínicos com macro e microelementos. Apesar da alta dose de LT4, mantinha TSH > 100 mUI/mL. Pesava 120 kg, com IMC de 45; avaliação abdominal com desconforto difuso à palpação. Laboratorialmente, TSH > 100 mUI/mL e T4L de 0,08 ng/dL, glicemia de jejum 95, hemoglobina glicada 6,4% e perfil nutricional dentro da normalidade. Anti-célula parietal resultou negativo, porém anti-transglutaminase (anti-TTG) Ig A de 17,6 e antiendomísio de 1/10. Endoscopia digestiva alta encontrava-se macroscopicamente normal, porém biópsias de bulbo e segunda porção duodenal revelaram atrofia duodenal, com relação vilo-cripta 1:1 e linfocitose intraepitelial de 30%. Diagnosticada com doença celíaca (DC) e má absorção de LT4 secundária à atrofia duodenal, a paciente foi orientada a manter dieta isenta de glúten (DIG). No entanto, 1 mês após início da DIG, a paciente procurou pronto-socorro com dispneia e dor torácica, sendo diagnosticada com tamponamento cardíaco e mixedema. Foi submetida à pericardiocentese, com alta após 3 semanas. Após 5 meses de DIG, anti-TTG tornou-se negativo e o TSH vinha em curva de queda, porém a paciente teve novo episódio de derrame pericárdico, quando se optou por administrar LT4 via retal 600 mcg/dia, com melhor controle do hipotireoidismo (TSH de 4 mUI/mL) após 02 meses de tratamento. DISCUSSÃO: Descartando-se a possibilidade de má aderência, o diagnóstico de DC, assim como de outras causas de má absorção medicamentosa, deve ser suspeitado em pacientes com hipotireoidismo refratário. A administração de levotiroxina retal (enema) em altas doses, apesar de inconveniente para os pacientes, tem-se mostrado segura e eficaz em diversos estudos em pacientes com má absorção da medicação via oral. COMENTÁRIOS FINAIS: Os fatores que dificultam a normalização do TSH no hipotireoidismo merecem atenção. Síndromes disabsortivas, em especial doença celíaca, devem ser investigadas. Em pacientes com DC e atrofia severa, a administração de levotiroxina por rotas alternativas (parenteral ou retal) deve ser considerada a fim de se evitar maiores complicações.
Área
Gastroenterologia - Estômago/Duodeno
Autores
Lohrane Rosa Bayma, Felipe Ferreira Ribeiro Souza, Julia Carvalho Andrade, Lucas Fortes Portela Ferreira, Maria Josefina Viteri, Matheus Spadeto Aires, Raquel Yumi Sakamoto, Karoline Soares Garcia, Ricardo Correa Barbuti