XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Úlcera gástrica relacionada infecção por citomegalovírus (CMV), um relato de caso

Resumo

Apresentação do caso clínico
Paciente, feminino, 58 anos, há dois meses equimoses e pancitopenia (hemoglobina de 7,6; leucócitos 1500; plaquetas 15000), sendo diagnosticada com aplasia de medula, após aspirado de medula óssea. Foi internada com neutropenia febril para antibioticoterapia de amplo espectro. Evoluiu com hematêmese e melena, quando foi encaminhada para endoscopia digestiva alta. No exame apresentava corpo gástrico com múltiplas lesões ulceradas, serpiginosas, base com hematina e lesões úlcero-infiltrativas em antro, com sangramento em babação e necessidade de hemostasia. Orientado inibidor de bomba de prótons (IBP) por 8 semanas. Em endoscopia de controle permanecia as lesões ulceradas difusas em corpo e antro, sendo realizadas biópsias. O histopatológico revelou presença de gastrite crônica ativa em antro associada a H. pylori e presença de células com cariomegalia, sugestiva de infecção por citomegalovírus (CMV). Em investigação apresenta sorologia para CMV IgG positiva, IgM negativa e carga viral (CMV) de 178 cópias/ml. Sorologias para hepatites virais, HIV e sífilis negativas.

Discussão
A infecção pelo citomegalovírus (CMV) possui alta prevalência e caracteriza-se por ser assintomática ou oligossintomática na maioria dos casos, mas pode evoluir com sintomas graves em pacientes imunossuprimidos. Quando presente, o CMV pode acometer praticamente qualquer órgão, com predileção para o trato gastrointestinal, principalmente estômago e cólon. A infecção gástrica sintomática é mais prevalente em indivíduos imunocomprometidos, mas também pode acometer os imunocompetentes. A infecção pode causar úlceras gástricas de aparência não-específica à endoscopia, sendo muito similar ao padrão observado nas úlceras causadas por H. pylori e por anti-inflamatórios não esteroidais. O diagnóstico é feito pela biópsia da lesão e observando a presença de corpos de inclusão intranucleares, entretanto, a sensibilidade do teste é baixa, sendo recomendada a imunohistoquímica em casos de suspeita de CMV não confirmados pela microscopia. Em imunocompetentes, o uso de IBPs costuma ser suficiente para o controle da infecção. Nos imunossuprimidos, é recomendado adicionar um antiviral à terapêutica, como o ganciclovir.

Comentários Finais
Apesar de rara, a infecção sintomática por CMV deve ser considerada em pacientes imunossuprimidos com manifestações gastrointestinais, devendo ser investigada com endoscopia digestiva alta e biópsia de eventuais lesões.

Área

Endoscopia - Endoscopia digestiva alta

Autores

Sara Cardoso Paes Rose, Heleno Ferreira Dias, Anna Paula Mendanha da Silva Aureliano, Kelson Lopes Pontes Albano Batista, Daniel Studart Corrêa Galvão, Rodrigo Aires de Castro