Dados do Trabalho
Título
Úlcera gástrica relacionada infecção por citomegalovírus (CMV), um relato de caso
Resumo
Apresentação do caso clínico
Paciente, feminino, 58 anos, há dois meses equimoses e pancitopenia (hemoglobina de 7,6; leucócitos 1500; plaquetas 15000), sendo diagnosticada com aplasia de medula, após aspirado de medula óssea. Foi internada com neutropenia febril para antibioticoterapia de amplo espectro. Evoluiu com hematêmese e melena, quando foi encaminhada para endoscopia digestiva alta. No exame apresentava corpo gástrico com múltiplas lesões ulceradas, serpiginosas, base com hematina e lesões úlcero-infiltrativas em antro, com sangramento em babação e necessidade de hemostasia. Orientado inibidor de bomba de prótons (IBP) por 8 semanas. Em endoscopia de controle permanecia as lesões ulceradas difusas em corpo e antro, sendo realizadas biópsias. O histopatológico revelou presença de gastrite crônica ativa em antro associada a H. pylori e presença de células com cariomegalia, sugestiva de infecção por citomegalovírus (CMV). Em investigação apresenta sorologia para CMV IgG positiva, IgM negativa e carga viral (CMV) de 178 cópias/ml. Sorologias para hepatites virais, HIV e sífilis negativas.
Discussão
A infecção pelo citomegalovírus (CMV) possui alta prevalência e caracteriza-se por ser assintomática ou oligossintomática na maioria dos casos, mas pode evoluir com sintomas graves em pacientes imunossuprimidos. Quando presente, o CMV pode acometer praticamente qualquer órgão, com predileção para o trato gastrointestinal, principalmente estômago e cólon. A infecção gástrica sintomática é mais prevalente em indivíduos imunocomprometidos, mas também pode acometer os imunocompetentes. A infecção pode causar úlceras gástricas de aparência não-específica à endoscopia, sendo muito similar ao padrão observado nas úlceras causadas por H. pylori e por anti-inflamatórios não esteroidais. O diagnóstico é feito pela biópsia da lesão e observando a presença de corpos de inclusão intranucleares, entretanto, a sensibilidade do teste é baixa, sendo recomendada a imunohistoquímica em casos de suspeita de CMV não confirmados pela microscopia. Em imunocompetentes, o uso de IBPs costuma ser suficiente para o controle da infecção. Nos imunossuprimidos, é recomendado adicionar um antiviral à terapêutica, como o ganciclovir.
Comentários Finais
Apesar de rara, a infecção sintomática por CMV deve ser considerada em pacientes imunossuprimidos com manifestações gastrointestinais, devendo ser investigada com endoscopia digestiva alta e biópsia de eventuais lesões.
Área
Endoscopia - Endoscopia digestiva alta
Autores
Sara Cardoso Paes Rose, Heleno Ferreira Dias, Anna Paula Mendanha da Silva Aureliano, Kelson Lopes Pontes Albano Batista, Daniel Studart Corrêa Galvão, Rodrigo Aires de Castro