XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Paracoccidioidomicose intestinal em paciente com linfangiectasia intestinal primária: relato de caso

Resumo

Apresentação do Caso:
Homem de 35 anos, com diagnóstico prévio de linfangiectasia intestinal primária, iniciou com episódios de distensão abdominal e dor em fossa ilíaca direita. Foi realizada colonoscopia, que evidenciou válvula ileocecal com úlceras e distorção arquitetural, e presença de úlceras também no ceco e cólon ascendente. Nas biópsias, a coloração para fungos (Grocott-Gomori) foi positiva, com estruturas fúngicas sugestivas de paracoccidiodomicose.
Iniciado tratamento com itraconazol 100 mg duas vezes ao dia. Após três meses do início do tratamento, paciente apresentou episódio de oclusão intestinal, com tomografia de abdome demonstrando obstrução ao nível da válvula ileocecal. Paciente foi submetido à ileocolectomia direita. Anatomopatológico da peça cirúrgica apresentava fibrose e presença de agregados linfoides ao nível da válvula, mas a peça não foi enviada para cultura para fungos.
Recebeu anfotericina B por 14 dias, seguido por tratamento de manutenção com itraconazol até completar um ano. Apresentou adequada evolução clínica.

Discussão:
A paracoccidioidomicose (PCM) é uma micose sistêmica considerada endêmica e limitada à América Latina, com a maioria dos casos registrados no Brasil. A apresentação extrapulmonar representa menos de 1% dos casos, e é mais frequente em imunossuprimidos. Na PCM intestinal, dor abdominal e diarreia são os sintomas mais comuns.
Na colonoscopia, observam-se múltiplas úlceras, principalmente no íleo, ceco e cólon ascendente, intercaladas por áreas de mucosa normal. O diagnóstico é através da identificação de estruturas fúngicas com múltiplos brotamentos nas biópsias, através de coloração para fungos, como a coloração de Grocott-Gomori.
Para o tratamento, sugere-se itraconazol em casos leves a moderados; nas formas graves e sistêmicas, é recomendado o uso de anfotericina B até a estabilidade clínica. A intervenção cirúrgica pode ser necessária em cerca de 15% dos casos, principalmente para manejo de complicações, como estenose ou obstrução intestinal.

Comentários finais:
A linfangiectasia intestinal primária cursa com enteropatia perdedora de proteínas, linfopenia e redução de imunoglobulinas, resultando em maior predisposição a infecções. Considerando que o papel mais importante na proteção contra a PCM é desempenhado pelos macrófagos, que só são eficientes se os linfócitos T CD4+ forem competentes, essa comorbidade pode ter predisposto o paciente desse caso clínico à PCM intestinal.

Área

Endoscopia - Colonoscopia

Autores

Flávia Vieira Lopes, Alexandre Luis Klamt, Ismael Maguilnik