Dados do Trabalho
Título
ROTURA HEPÁTICA ESPONTÂNEA: RELATO DE CASO E CONSIDERAÇÕES TERAPÊUTICAS
Resumo
Apresentação do caso: Puérpera, 29 anos, G2P2A0, hipertensa, obesa, com pré-natal irregular, submetida a cesariana devido a iteratividade e disfunção renal aguda. Obstetras assistentes relataram líquido ascítico acastanhado durante a cirurgia, porém não seguiu-se propedêutica e a paciente recebeu alta três dias após parto, clinicamente bem. Retorna a maternidade com dor abdominal, febre, taquicardia. Foi submetida a tomografia abdominal que mostrou formação expansiva englobando praticamente todo o lobo esquerdo do fígado, com densidade heterogênea central, sugerindo possível abscesso, além de líquido livre abdominal. Diante desses achados, foi transferida para hospital de referência. Foi optado por realizar drenagem percutânea, com saída de 1300 ml de secreção hemática turva. Dois dias após a primeira drenagem, fizeram nova punção percutânea, para abranger coleção não drenada, com saída de 4200 ml com o mesmo aspecto da primeira punção. A paciente apresentava Hb=12mg/dl anteriormente às punções e 7,9mg/dl após o procedimento. Nesse momento, a equipe de Cirurgia do Aparelho Digestivo foi acionada para auxílio no caso. Levando-se em consideração o contexto de puerpério e lesão hepática, além do conteúdo drenado e repercussão laboratorial, a equipe confirmou o diagnóstico de rotura hepática espontânea.
Discussão: Com incidência de 1/225000 partos, a rotura hepática é mais comum em multigestas do que em primigestas e frequentemente está associada à eclampsia, pré-eclampsia e a síndrome HELLP. Traumatismos mínimos, como os que ocorrem durante o trabalho de parto, vômitos ou convulsões, podem levar à hemorragia inicial em áreas de necrose hepática associada à doença hipertensiva da gravidez. O diagnóstico deve ser suspeitado a partir do quadro clínico: dor em hipocôndrio direito, associada ou não a náuseas, vômitos e choque hemorrágico, e confirmado com exames de imagem. A escolha do tratamento depende da estabilidade hemodinâmica e do quadro clínico da paciente, podendo variar entre cirurgia definitiva, controle de danos ou embolização.
Comentários finais: Condição rara e potencialmente fatal para gestante e feto, a rotura hepática espontânea deve ser conhecida para que faça parte do repertório de diagnósticos do cirurgião e seja rápida e corretamente tratada.
Área
Cirurgia - Fígado
Autores
Débora Faria Nogueira, Soraya Rodrigues de Almeida Sanches, Marcelo Dias Sanches, Mariana Oliveira Ferreira, Thais Rocha de Sena, Tuian Santiago Cerqueira