Dados do Trabalho
Título
Impacto da pandemia por COVID-19 no diagnóstico de adenocarcinoma em esôfago de Barrett: um relato de caso.
Resumo
Apresentação do caso clínico
Paciente, feminina, 49 anos. Compareceu em setembro de 2019 ao serviço de otorrinolaringologia com disfagia e sensação de engasgo. Videolaringoscopia sem alterações. Solicitada endoscopia digestiva alta (EDA), que revelou sinais de esôfago de Barrett (EB) C5M7 pelos critérios de Praga; por apresentar sinais inflamatórios, a lesão não foi biopsiada. Orientado inibidor de bomba de prótons (IBP) por 4 semanas e retorno para nova EDA com biópsia. Após 3 meses, a paciente retornou ao serviço e teve lesão biopsiada. Devido à pandemia, que se iniciou em março de 2020, paciente não retornou com o laudo histopatológico e perdeu seguimento. Retornou em março de 2022, apresentando disfagia acentuada e perda de 7 kg em 2 meses; trouxe laudo histopatológico de janeiro de 2020: EB com displasia de alto grau. Nova EDA mostrou lesão sugestiva de adenocarcinoma sobre área de EB, confirmado por biópsia. Solicitadas tomografias para estadiamento, com os achados: espessamento concêntrico de esôfago medindo 3,5 cm, ausência de linfonodomegalias ou metástases. Paciente em acompanhamento com oncologia clínica em quimiorradioterapia.
Discussão
O EB é resultante da troca do epitélio escamoso por epitélio colunar metaplásico; acomete o esôfago distal como consequência da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) de longa data e acomete até 10% dos refluidores crônicos. Além disso, é um fator de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma esofágico; apesar do aumento importante no risco relativo, o risco absoluto de desenvolver câncer em EB sem displasia continua baixo (0,1 a 3% ao ano). O tratamento da DRGE com IBP funciona como fator protetor no paciente com EB, reduzindo a incidência de câncer. O seguimento endoscópico é debatível, mas em geral recomendado a cada 3 a 5 anos para pacientes sem displasia e a cada 6 meses a 1 ano para aqueles com displasia de baixo grau; quando há displasia de alto grau ou carcinoma intramucoso é indicada ablação por radiofrequência. No caso em questão, a perda de seguimento pela pandemia de COVID-19, resultou no diagnóstico tardio e já complicado de lesão esofágica; dificultando a terapia, diminuindo chances de cura e aumentando morbidade relacionada ao tratamento.
Comentários Finais
Diante do exposto, levanta-se a hipótese da pandemia ter contribuído para aumento da incidência de adenocarcinoma esofágico em pacientes com EB, visto que o acompanhamento e a terapia precoce reduzem chances do diagnóstico nesse estágio.
Área
Gastroenterologia - Esôfago
Autores
Ana Paula da Silva Pereira Lôpo, Kelson Lopes Pontes Albano Batista, Igor Gifoni Aragão, Jorge Alberto Capra Biasuz, Heinrich Bender Kohnert Seidler, Renato Marano Rocha, Maria Cecília Dias Trindade, Fernando Sevilla Casan Júnior, Juliana de Meneses, Amani Hamidah Carvalho