XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Síndrome dos vômitos cíclicos e sua relação com banhos quentes e consumo de maconha - Relato de Caso e Revisão de Literatura

Resumo

Apresentação do caso: Paciente do sexo masculino, 38 anos, com diagnóstico de transtorno bipolar tipo I e infecção pelo HIV há 4 anos, com carga viral indetectável, além de uso recreativo de maconha diariamente. Internado por descompensação de doença psiquiátrica e por relato de que há 3 anos apresenta vômitos frequentes, precedidos por calafrios, predominantemente pela manhã, com melhora após longos banhos quentes e ingestão compulsiva de líquidos (até 12 litros de água/dia). Necessitou de diversas idas ao pronto-socorro e apresentou perda ponderal de 36 kg nesse período. Realizados exames laboratoriais, tomografias de crânio e abdome e endoscopia digestiva alta (EDA) que apresentaram-se normais. Considerado o diagnóstico de Síndrome dos Vômitos Cíclicos (SVC), foi introduzida amitriptilina e ajustada dose de quetiapina e lítio, além de abstinência à maconha, com melhora completa do quadro clínico, recuperação do peso e restabelecimento da qualidade de vida à longo prazo com medidas comportamentais como higiene do sono, atividade física e eventualmente uso de ondansetrona como medicação sintomática.
Discussão: A SVC é uma patologia funcional crônica que apresenta episódios estereotipados de náuseas, vômitos e eventualmente dor abdominal e é marcada por 4 fases: inter-episódica, prodrômica, emética e de recuperação. A fase prodrômica pode ser marcada por calafrios e a fase emética pode persistir por semanas até meses. O uso de maconha é relatado em até 38% dos pacientes e predomina nos homens jovens, além de ser fator de risco para não resposta ao tratamento ainda é identificado como fator deflagrador de crises. A coexistência de patologias psiquiátricas como transtorno bipolar, ansiedade e depressão pode ser frequente e muitas vezes a descompensação do quadro psiquiátrico está relacionada com ativação de crises eméticas. Exames diagnósticos como EDA e tomografias de crânio e abdome frequentemente são inconclusivos. Há relatos na literatura sobre o papel dos banhos quentes no alívio sintomático durante as crises eméticas, apesar da fisiopatologia não ser totalmente esclarecida, sendo um achado presente em até 73% dos pacientes com diagnóstico de SVC.
Comentários finais: A SVC é pouco conhecida entre os médicos e isso gera atraso diagnóstico. Os mecanismos associados à deflagração de crises ainda são pouco esclarecidos e mais estudos são necessários para compreensão da fisiopatologia da doença e de medidas terapêuticas direcionadas para a base patológica.

Área

Gastroenterologia - Estômago/Duodeno

Autores

Davi Viana Ramos, Daniel Makot Nakagawa, Mariana de Lira Fonte