Dados do Trabalho

Título

CORRELAÇÃO ENTRE ACHADOS ENDOSCÓPICOS E HISTOLÓGICOS NA RETOCOLITE ULCERATIVA

Introdução

A Retocolite Ulcerativa (RCU) é uma patologia imunomediada crônica que afeta a mucosa colorretal. Na ausência de tratamento eficaz, a inflamação intestinal é progressiva e cumulativa, com alta morbidade.
Os avanços no manejo da RCU mudaram os alvos terapêuticos, sendo as metas atuais a remissão clínica, laboratorial e cicatrização endoscópica da mucosa (subescore endoscópico MAYO 0). A cura histológica apesar de não ser obrigatória, é recomendável.
Tentativas prévias de correlacionar atividade endoscópica e histológica não obtiveram sucesso por inexistência de índices validados. A correlação entre subescore endoscópico de MAYO, mais utilizado na prática clínica, e Índice histológico de Nancy (IN), validado e menos complexo, não foi examinada.

Objetivos: Determinar a reprodutibilidade e assertividade entre subescore endoscópico de MAYO e IN na RCU.

Métodos: Estudo observacional, transversal, prospectivo, em centro único. Inclui pacientes com RCU que realizaram colonoscopia ou retossigmoidoscopia com biópsias seriadas. Os achados foram classificados conforme subescore de MAYO e IN (avaliado por patologista treinado, cego para achados endoscópicos). Realizada correlação de Spearman entre os índices, análise de reprodutibilidade através do Kappa ponderado, pesquisa de sensibilidade e especificidade de doença (significância de 0,05).

Resultados: Inclusos 66 pacientes, idade mediana de 37 anos, 54% mulheres. Achados: exame normal=16,7%, retite=28,8%, colite esquerda=24,2%, pancolite=30,3%. Quanto ao MAYO: 0 em 29%, 1 em 20%, 2 em 21% e 3 em 30%. IN: 0 em 30,3%, 1 em 7,6%, 2 em 22,7%, 3 em 18,2% e 4 em 21,2%. Coeficiente de correlação entre MAYO e IN (escala 0-4) foi de r=0,912, demonstrando correlação linear forte. Análise de Kappa ponderado (0,70, Intervalo de Confiança (IC) de 95% [0,6-0,8], p < 0,001) indica reprodutibilidade alta entre MAYO e IN. A acurácia para predizer doença foi avaliada em duas categorias: normal – MAYO 0 e IN 0-1 ou mucosa doente – MAYO ≥ 1 e IN ≥ 2. O MAYO apresentou sensibilidade de 97,56% (IC 95% [0,87-0,99], p < 0,001), especificidade 72% (IC 95% [0,5-0,88], p < 0,001), VPP 85%, VPN 95% e acurácia de 88% (IC 95% [0,77-0,95], p < 0,001).

Conclusão: O estudo evidencia elevada concordância entre subescore de MAYO e IN, sendo fortemente reprodutível e assertivo. O escore de MAYO possui alta sensibilidade para excluir RCU. Logo, considerando apenas graduação da atividade de doença, tais achados sugerem dispensar a necessidade de biópsias.