Dados do Trabalho

Título

Isquemia gástrica crônica mimetizando neoplasia avançada: relato de caso

Resumo

Apresentação do caso:
Mulher, 67 anos, previamente hipertensa e diabética, ex-tabagista, admitida por quadro de dor abdominal, astenia e perda de 20 Kg iniciados há 12 meses do internamento. Portava exames de endoscopia digestiva alta evidenciando múltiplas úlceras irregulares, extensas e profundas em corpo e antro gástrico, com piora do padrão em 3 meses entre os exames a despeito do tratamento para Helicobacter pylori e uso de inibidor de bomba de prótons, evoluindo com tecido necrótico. Histopatológicos repetidamente sem células neoplásicas.
Dentre os exames realizados, a angiotomografia e a aortografia abdominal se configuram como definidoras do caso, confirmando doença aterosclerótica e com achado de aneurisma fusiforme envolvendo a origem do tronco celíaco seguido de estenose, sendo observado apenas o preenchimento disal dos seus segmentos, além de estenose suboclusiva de artéria mesentérica superior, levando ao diagnóstico de úlceras gástricas secundárias à isquemia gástrica crônica.
Optado por colocação de stent em artéria mesentérica superior, com endoscopia de controle 3 meses após procedimento com melhora significativa das lesões e paciente assintomática.
Discussão:
A isquemia gástrica crônica é uma entidade rara devido ao extenso suprimento sanguíneo colateral do órgão - cerca de 95% pode ser ligado sem lesão da mucosa.
Devido seus sintomas inespecíficos, como dor abdominal e perda de peso, é frequentemente diagnosticada tardiamente, principalmente quando secundária à aterosclerose, principal etiologia, por ter uma apresentação insidiosa.
É prudente considerar a possibilidade desse diagnóstico em pacientes com fatores de risco como diabetes, tabagismo, hipertensão e doença aterosclerótica, e que apresentam úlceras gástricas sem elucidação diagnóstica.
Como tratamento, a revascularização é recomendada e, embora o estômago receba a maior parte de seu suprimento sanguíneo do tronco celíaco, a melhora clínica após a revascularização da artéria mesentérica superior tem sido documentada, com melhora dos achados endoscópicos em meses.
Comentários finais:
É de extrema importância considerar o diagnóstico de isquemia gástrica crônica em pacientes com lesões ulcerosas sem evidência de neoplasia, H. pylori negativas e sem resposta ao tratamento conservador, especialmente em pacientes com doença vascular aterosclerótica, uma vez que é uma condição de mau prognóstico, sendo o diagnóstico e a intervenção precoces potenciais redutores de morbidade e mortalidade.