XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Colite por dasatinibe simulando doença inflamatória intestinal: relato de caso

Resumo

Apresentação do caso:
Homem, 59 anos, com diagnóstico prévio de retocolite ulcerativa e história de diarréia líquida há 16 meses, com muco e raios de sangue, associada a dor abdominal e perda ponderal. Negava controle dos sintomas apesar do uso de mesalazina, azatioprina e prednisona. Em seus antecedentes, tinha diagnóstico de leucemia mielóide crônica em remissão há 6 anos, com uso de dasatinibe fazia 11 anos.
Colonoscopia mostrou múltiplas ulcerações em reto e segmentos colônicos, com histopatológico evidenciando colite crônica erosiva. A pesquisa de citomegalovírus veio positiva.
Pela anamnese, foi levantada hipótese de colite induzida pelo dasatinibe, sendo suspensas todas as medicações acima citadas e iniciado ganciclovir, tendo o paciente evoluído com normalização do hábito intestinal, além de melhora endoscópica.
Frente a dificuldade de alternativas terapêuticas para leucemia, o dasatinibe foi reintroduzido, havendo aumento da calprotectina fecal (133 para 1634 mg/kg) e piora na colonoscopia. Mais uma vez a droga foi suspensa, com queda de calprotectina e cicatrização de grande parte da mucosa após 45 dias. Nesse momento, conseguiu-se acesso ao tratamento com nilotinibe e paciente segue em estabilidade clínica e laboratorial.
Discussão:
Colite é um efeito colateral incomum do dasatinibe, com relato de prevalência de 1.2%. Contudo, um estudo que utilizou como triagem sangue oculto nas fezes, seguido por colonoscopia, identificou colite em 33% dos usuários, mostrando um subdiagnóstico.
Diarreia é um efeito colateral compartilhado com outros inibidores de tirosina quinase, entretanto, a colite hemorrágica parece ser exclusiva do dasatinibe, sendo a associação da droga com colite por citomegalovírus também já estabelecida na literatura.
A apresentação clínica varia desde pacientes assintomáticos até quadros de dor abdominal, diarreia e hematoquezia. Revisão de dados mostra início dos sintomas em meses a anos após início da droga, não sendo encontrado um intervalo tão longo quanto o aqui relatado.
O quadro tende a melhorar com a suspensão da droga, apresentando resolução clínica em 1 semana e endoscópica em 2 semanas, e a mudança para outro inibidor de tirosina quinase é indicada.
Comentários finais:
O diagnóstico de doença inflamatória intestinal pode ser desafiador e envolve uma junção de características clínicas, laboratoriais, endoscópicas e patologia. Seu diagnóstico diferencial é amplo, incluindo colite medicamentosa, entre eles colite por dasatinibe.

Área

Gastroenterologia - Intestino

Autores

Júlia Maria Fernandes Vasconcellos, Lucila Samara Dantas de Oliveira, Jones Silva Lima, Gabriela Oliveira Chaves, Valéria Ferreira Martinelli