XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Enteropatia associada à olmesartana: importância como diagnostico diferencial para diarreia crônica

Resumo

Apresentação: P.S.A., masculino, 53 anos, hipertenso, em uso regular de olmesartana 40mg ao dia há 6 anos. Admitido por queixa de diarreia disabsortiva, cerca de cinco episódios ao dia e nos últimos 5 meses com cerca de dez episódios ao dia, associada a perda ponderal de 40 kg nestes dois anos de apresentação clínica. Ao exame, encontrava-se emagrecido, hipocorado e desidratado. Internou em dois hospitais diferentes sem elucidação de causa, realizou diversos testes entre eles uma endoscopia digestiva alta que evidenciou em seu anatomopatológico ileite crônica moderada, focalmente ativa, com agregado linfoide focal em lâmina própria, associado a hipotrofia vilositária e hipertrofia de cripta. Em exames laboratoriais foi evidenciado importante hipoalbuminemia e anemia normocítica/normocrômica, porém com anti transglutaminase negativo e IgA dentro da normalidade. Foi excluída malignidade no exame de endoscopia digestiva alta e colonoscopia, tendo sido afastado também causa infecciosa.
Já na internação tendo em vista o síndrome consumptiva foi iniciado aporte nutricional por via parenteral e a olmesartana suspensa, após cerca de 2 semanas internado o paciente evoluiu com melhora dos episódios diarreicos, agora com dois episódios de fezes pastosas ao dia.
Paciente apresentou ganho ponderal e foi liberado da internação hospitalar para novo controle imaginológico em 6 meses e acompanhamento ambulatorial.
Discussão: A atrofia vilosa de delgado tem como causa mais comum a doença celíaca. No entanto, outras doenças autoimunes e infecciosas apresentam-se desta forma assim como efeito adverso de medicações.
A olmesartana é um antagonista do receptor de angiotensina II utilizado no tratamento da hipertensão arterial sistêmica, capaz de provocar uma forma de enteropatia semelhante, clínica e histologicamente, à doença celíaca. Estudos de biópsias duodenais de casos de enteropatia por olmesartana mostraram aumento de linfócitos T CD8+ e uma correspondente superexpressão de IL15 pelas células epiteliais, demonstrando uma resposta inata imune à olmesartana, semelhante à desencadeada pelo glúten na doença celíaca.
Comentários finais: Apesar da enteropatia (doença celíaca like) ser uma condição patológica pouco frequente, deve ser considerada como diagnóstico diferencial de doença celíaca, devido ao crescente uso da olmesartana em nosso meio. O aparecimento de sintomas pode surgir meses ou anos após o início da terapia, e há rápida resolução destes com sua interrupção.

Área

Gastroenterologia - Estômago/Duodeno

Autores

Letícia Bêe, Ana Paula Godoy Finger, Jéssica Fretta Machado, Bruno Granja Marcos