XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Uso de hemocomponentes no contexto perioperatório do tratamento do câncer gástrico: avaliação dos resultados de curto e longo prazo de mortalidade e complicações pós-operatórias

Resumo

Introdução: O câncer gástrico é frequentemente associado a sangramentos. O uso de hemocomponentes no perioperatório é comum neste cenário com impacto negativo no prognóstico .
Objetivo: Investigar a associação entre o uso de hemocomponentes no período perioperatório e o prognóstico de pacientes no contexto do tratamento cirúrgico do câncer gástrico.
Método: Análise retrospectiva de 718 pacientes submetidos a gastrectomia com intuito curativo para adenocarcinoma gástrico no período de 2009 a 2021. Os grupos analisados foram divididos entre pacientes que receberam, ou não, hemocomponentes durante ou até 30 dias após o ato cirúrgico.
Resultados: Dos 718 pacientes, 189 (26.3%) receberam hemocomponentes durante ou após o ato cirúrgico. Esses pacientes tinham idade mais elevada (65.6 vs 61.3 anos; p<0.001), menor IMC (23.7 vs 24.6; P=0.019), mais comorbidades pelo índice de Charlson (p=0.014) e realizaram mais gastrectomias totais (51.9% vs 36.3%; p<0.001) por via convencional (88.9% vs 74.9%; p<0.001).
Na análise multivariada, foram fatores de risco independentemente associados ao uso de hemocomponentes a hemoglobina pré-operatória (OR 4.3; IC95% 2.8-6.8; p<0.001), albuminemia (OR 1.9; IC95% 1.1-3.1; p=0.017), gastrectomia total (OR 1.7; IC95% 1.1-2.6; p=0.011), cirurgia por via convencional (OR 1.9; IC95% 1.0-3.5; p=0.034) e ocorrência de complicações pós-operatórias graves (OR 8.8; IC95% 5.3-14.8; p<0.001).
O grupo que não recebeu hemocomponentes apresentou tempo de internação menor (10.4 dias vs 21.6 dias; p<0.001) e menor incidência de complicações pós-operatórias graves (7.7% vs 40.7%; p<0.001).
No grupo que recebeu hemocomponentes, as mortalidades em 30 (1.5% vs 10.1%; p<0.001) e 90 dias (3.1% vs 19.0%; p<0.001) foram significativamente maiores.
Na regressão de Cox, o uso de hemocomponentes foi fator independentemente associado à pior sobrevida global (HR 1.8; IC95% 1.4-2.3; p<0.001) e livre de doença (HR 1.9; IC95% 1.5-2.5; p<0.001).Também foram fatores independentemente relacionados à pior sobrevida global e livre de doença a classificação ASA, gastrectomia total, tumor T3/T4 e a presença de linfonodos acometidos.
Conclusão: O uso de hemocomponentes no perioperatório para tratamento do câncer gástrico está associado a pior sobrevida, ao aumento da mortalidade e da incidência de complicações pós-operatórias graves.

Área

Cirurgia - Estômago

Autores

LUCAS EIKI KAWAKAMI, PEDRO BARZAN BONOMI, FABRÍCIO OLIVEIRA CARVALHO, MARINA ALESSANDRA PEREIRA, ULYSSES RIBEIRO JÚNIOR, BRUNO ZILBERSTEIN, LUCIANA RIBEIRO SAMPAIO, LUIZ AUGUSTO CARNEIRO D'ALBUQUERQUE, MARCUS FERNANDO KODAMA PERTILLE RAMOS