XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Transplante hepático pós-colangiopatia induzida por COVID-19: um relato de caso

Resumo

Paciente feminino de 46 anos apresentou infecção por COVID-19 grave em abril de 2021 com necessidade de internação em unidade de terapia intensiva (UTI). Apresentava epilepsia com única comorbidade. Durante a internação, evoluiu com icterícia e elevação de transaminases. Após a alta hospitalar manteve icterícia, em caráter progressivo e apresentou perda importante de peso, fraqueza generalizada e posteriormente ascite com necessidade de paracentese de alívio em maio de 2022. Submeteu-se a biópsia hepática evidenciando hepatopatia de características colestáticas com esteatose e necrose hepatocítica. Realizada avaliação clínica e laboratorial que excluiu outras causas de hepatopatia, concluindo tratar-se de colangiopatia pós-COVID. Estava em uso de ácido ursodesoxicólico e mantinha piora progressiva clínica e laboratorial, sendo listada para transplante hepático com MELD-Na de 24. Foi transplantada um mês após, sem intercorrências e permaneceu internada no hospital por 14 dias, não tendo apresentado no período infecções ou outras complicações clínicas ou cirúrgicas graves. A biópsia do explante mostrou colestase intracitoplasmática e canalicular intensa e difusa. Recebeu alta com imunossupressão, mantém acompanhamento ambulatorial, apresenta-se em bom estado geral e em melhora clínica, tendo importante redução da icterícia e dos sintomas prévios.
Os primeiros casos de COVID-19 foram relatados em dezembro de 2019 e se espalharam rapidamente pelo mundo, gerando uma pandemia de grandes proporções. Embora inicialmente os sintomas respiratórios fossem os mais reconhecidos, logo passaram a ser identificados acometimentos multissistêmicos. Estudos mostraram que os colangiócitos apresentam altas concentrações da proteína receptora do vírus, o receptor da enzima conversora de angiotensina-2 (ACE-2). O vírus então se ligaria aos receptores e causaria efeito citopático direto causando colangiopatia. A toxicidade hepatobiliar do vírus é multifatorial e outros fatores como a tempestade de citocinas e dano hepatocítico direto podem auxiliar o processo.
Assim como a paciente descrita, observamos na literatura outros casos com evolução semelhante, contudo, a maioria se apresenta com alterações clínico e laboratoriais transitórias e com recuperação, muitas vezes, espontânea. A necessidade de transplante é rara, com poucos casos relatados, sendo o primeiro em maio de 2021. Mais estudos são necessários para compreendermos a evolução clínica e desfecho destes pacientes.

Área

Gastroenterologia - Fígado

Autores

Paulo de Carvalho Costa, Joana Capano Hawerroth, Lana Bassi Ferdinando, Gustavo Graciosa Saporiti, Fernanda Schumacher Furlan, Gabriel Pabis Balan, Alcindo Pissaia, Daphne Benatti Morsoletto, Claudia Alexandra Ivantes, Carlos Eduardo Callegari, Juliana Ayres Guerra, Kátia Cristina Kampa