Dados do Trabalho

Título

Efeitos da pandemia de COVID-19 na realização dos exames de endoscopia digestiva em um hospital do sul do Brasil

Resumo

Introdução: A pandemia de COVID-19 impôs a necessidade da adoção de medidas de contenção do vírus e de realocar recursos à linha de frente de combate. Diretrizes e entidades governamentais orientaram que procedimentos eletivos fossem suspensos ou adiados, restringindo a realização de endoscopias digestivas a situações urgentes e ameaçadoras de vida, possibilitando que outras condições detectáveis e tratáveis aos exames deixassem de ser abordadas. As medidas de controle da pandemia modificaram a dinâmica de funcionamento dos serviços de endoscopia digestiva durante esse período. Objetivo: Avaliar os efeitos da pandemia de COVID-19 nas endoscopias digestivas altas e colonoscopias através da comparação do perfil de pacientes, características dos exames e seus resultados. Método: Estudo observacional com delineamento transversal e análise de dados secundários. O estudo incluiu 3.146 pacientes que realizaram exames de endoscopia digestiva alta e colonoscopia em um hospital terciário de referência do sul de Santa Catarina. Comparou-se o primeiro ano de pandemia de COVID-19, 11 de março de 2020 a 10 de março de 2021, com o período equivalente anterior, pré-pandemia, 11 de março de 2019 a 10 de março de 2020. Resultados: Da totalidade de exames, 2.159 foram endoscopias digestivas altas e 987 foram colonoscopias. Observou-se uma redução global em 41,11% na realização de exames de endoscopia digestiva. A demanda externa dos exames diminuiu 9,01%. A proporção de mulheres representava 58,3% dos pacientes examinados, que diminuiu para 52,2%. Foram realizados, proporcionalmente, mais exames em pacientes com idade de 50 anos ou mais. Houve aumento de 31,7% na avaliação de sinais de alarme, de 16,4% nos acompanhamentos oncológicos e de 11,4% nas urgências endoscópicas durante a pandemia. A avaliação de sinais benignos e os exames realizados para rastreamento diminuíram 28,1% e 8,3%, respectivamente. Conclusão: Podem ter contribuído com as mudanças no perfil de atendimentos durante o a pandemia o cumprimento das recomendações de adiamento dos exames de caráter eletivo em pacientes de baixo risco, com prioridade às populações de maior risco, cuja realização dos exames é essencial e inadiável, considerando a alta complexidade do hospital participante do estudo. O conhecimento da existência dessa situação é essencial à elaboração de estratégias compensatórias para adequar o atendimento à população e suprir as carências assistenciais na saúde provocadas pela pandemia.