XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

“Esôfago Negro”: Relato de caso.

Resumo

Apresentação do Caso: VV 52 anos admitido para transplante renal. Hipertenso, portador de insuficiência cardíaca, doença renal crônica dialítica e fibrilação atrial. Durante internação apresentou epigastralgia e melena com endoscopia digestiva alta sugestiva para “Esôfago Negro”. Realizado manejo volêmico e supressão ácida evoluindo com boa aceitação de dieta oral e alta hospitalar após 30 dias. Discussão: O “Esôfago Negro”, ou necrose esofágica aguda, é uma condição rara e relatada pela primeira vez em 1990 por Goldenberg et al. O pico de incidência ocorre na sexta década de vida e é quatro vezes mais comum em homens. Diabetes mellitus (24%), neoplasias (20%), hipertensão (20%), abuso de álcool (10%) e doença arterial coronariana (9%) são fatores de risco. O esôfago distal, por sua pobre rede vascular, é o seguimento mais acometido. Os radicais livres advindos da lesão de isquemia e reperfusão e a migração leucocitária reduzem os mecanismos de viabilidade e função celular resultando em apoptose. A lesão química é intensificada pela obstrução da saída gástrica (como em úlceras duodenais, no volvo gástrico e na hérnia hiatal) ou por gastroparesia transitória (comum em estados inflamatórios sistêmicos). Fenômenos tromboembólicos e estados de hipercoagulabilidade também contribuem para necrose. O quadro clínico mais comum é a hemorragia digestiva alta (90% dos casos). Sendo assim, a presença de melena ou hematêmese no contexto de múltiplas comorbidades deve sugerir o diagnóstico. A endoscopia evidencia uma mucosa enegrecida circunferencialmente no terço distal do esôfago (geralmente limitada pela linha Z). Os diagnósticos diferenciais são acantose nigricans, deposição de pó de carvão, melanoma, esofagite química e infecciosa. O tratamento consiste no manejo volêmico, nutrição parenteral e inibidores da bomba de prótons. O sucralfato pode ser usado como terapia única ou suplementar a supressão ácida. Antibióticos são reservados para perfuração esofágica ou mediastinite. O prognóstico do “Esôfago Negro” é reservado, com taxa de mortalidade em torno de 32% e se deve às condições clínicas subjacentes, uma vez que as mortes secundárias à síndrome correspondem a menos de 6% dos casos. Comentários Finais: O “Esôfago Negro” é uma síndrome rara, porém deve ser considerada em situações de hipoperfusão em pacientes com múltiplas comorbidades.

Área

Endoscopia - Endoscopia digestiva alta

Autores

LUCIANA FERREIRA THEBIT, MÔNICA NASCIMENTO FAULHABER POURCHET