XXI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Abscesso hepático piogênico secundário à ingestão de corpo estranho: relato de caso

Resumo

Relato de caso: Paciente masculino, 55 anos, previamente hígido, atendido ambulatorialmente com sintomas dispépticos leves de início há 1 semana. Negava febre, astenia, dor abdominal ou icterícia. Ao exame físico, sinais vitais normais, abdome flácido, pouco doloroso em fossa ilíaca direita e com ruídos hidroaéreos aumentados. O US de abdome demonstrou lesão hepática focal sólida com áreas císticas e conteúdo espesso hipoecogênico de permeio de 60 cm3. Antes de prosseguir a investigação, em cerca de 2 dias, o paciente evoluiu com febre (38°C) e diarreia. Deu entrada na unidade de emergência prostrado, hipotenso, febril, taquicárdico e descompressão brusca positiva. Laboratoriais: leucocitose (18.500 uL), elevação de transaminases e canaliculares (2x LSN), bilirrubina total 3,8 mg/dL, PCR 463 mg/L, hemoculturas negativas. Iniciada antibioticoterapia e feita TC do abdome, que mostrou lesão de 160 cm3 no lobo esquerdo hepático, sugestiva de abscesso, associada a imagem alongada e hiperdensa entre o segmento III e o antro gástrico, sugestiva de corpo estranho (CE). Submetido a EDA para tentativa de remoção, porém observou-se apenas área de enantema em antro, sem evidência de CE. Optado, então, pela abordagem cirúrgica videolaparoscópica. No intraoperatório: processo inflamatório entre o antro gástrico e a superfície visceral hepática, coleção purulenta que foi drenada e, no local do abscesso, retirado material pontiagudo, de 2,7 cm de comprimento, compatível com espinha de peixe. Fornecida alta hospitalar após 5 dias em excelentes condições clínicas, completado esquema de antibioticoterapia ambulatorialmente. Discussão: o abscesso hepático é um desafio diagnóstico e terapêutico. Apresenta história clínica inespecífica, sem sinais localizatórios ao exame físico e laboratoriais pouco característicos. Os exames de imagem são essenciais para a investigação. A localização mais comum do abscesso causado por corpo estanho é no lobo hepático esquerdo e, sendo identificado o objeto, é indicativo de remoção. Considerações finais: Abscesso hepático piogênico secundário à ingestão de corpo estranho e perfuração do trato gastrointestinal é raro. O diagnóstico é frequentemente tardio, o que pode estar relacionado a evolução desfavorável e, por vezes, desfecho fatal. Relatamos um caso de abscesso hepático com boa evolução causado por ingestão de espinha de peixe, ressaltando a importância do diagnóstico precoce e da terapêutica apropriada para o bom desfecho do caso.

Área

Gastroenterologia - Fígado

Autores

Laura Mello Kawano, Priscila Isadora Scardovelli, Letícia Volpe de Abreu, João Vitor Pinesso Galhardo, Danielle Rossana de Martins Queiroz Bonilha, Nilton César Aranha, Nelson Ary Brandalise