XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Laceração Perineal Grau III/IV em parto vaginal: Episiotomia seria uma violência obstétrica ou protetora do aparelho esfincteriano anal?

Apresentação do Caso

A episiotomia amplia abertura vaginal por incisão no períneo no final do período expulsivo, para o desprendimento fetal. Objetiva proteger o períneo contra lesões, porém, não há evidência científica suficiente sobre sua efetividade e atualmente é seletiva e não mais rotineira. Além disso, episiotomia mediana é fator de risco para lacerações graves, portanto, se indicada, recomenda-se episiotomia lateral, evitando-se o aparelho esfincteriano anal. Assim, durante o parto, fatores que podem prejudicar a gestante e causar consequências para qualidade de vida posterior, são considerados violência obstétrica. No entanto, seria a episiotomia, em primíparas, uma violência obstétrica ou a falta dela poderia causar um dano maior?

Discussão

Caso 1: Paciente de 25 anos, hígida, primípara, submetida a parto normal de RN a termo, com uso de fórceps e episiotomia mediana, observando-se após o parto uma rotura de IV grau, com comunicação total entre vagina e reto, extensão 9 cm dentro do reto, rotura do septo retovaginal, musculatura perineal, esfíncteres interno e externo do ânus e canal anal. Realizada pela Coloproctologia reconstrução da vagina, musculatura do septo retovaginal e períneo, do esfíncter externo em “jaquetão” e do interno e rafia da parede retal e canal anal. Boa evolução, com alta no 5º PO, controle esfincteriano preservado.
Caso 2: Paciente de 17 anos, hígida, primípara, submetida a parto normal induzido, com 38 semanas, sem realização de episiotomia. Na revisão do canal de parto, identificada laceração parauretral bilateral sendo corrigida. Após 7 horas, evoluiu com dor vulvar, sangramento ativo e hematoma em períneo à direita, com queda de Hb de 12,4 para 8,4, indicado drenagem do hematoma em parede vaginal lateral direita e identificado rotura perineal grau IV. Realizada pela Coloproctologia reconstrução anatômica de parede vaginal, musculatura perineal e esfíncter externo do ânus. Boa evolução, com alta no 4º PO, continência fecal mantida.

Comentários finais

A incidência de lacerações perineais no parto vaginal é de 78,2%, sendo 2,5% graves. Fatores como idade materna, primiparidade, uso de fórceps e episiotomia influenciaram na ocorrência. Além disso, mulheres que tiveram laceração grau III/IV são mais propensas (23,0%) a ter incontinência fecal. Assim, é importante proteger períneo e realizar episiotomia lateral (e não mediana), se bem indicada, visando prevenir lacerações graves que, embora raras, causam danos a longo prazo na qualidade de vida.

Palavras-Chave

Laceração perineal, coloproctologia, ânus

Área

Cirurgia - Miscelânea

Autores

Mariana Araújo Santos, Mariza Helena Prado Kobata, Elesiario Marques Caetano Junior, Raina Caterina Coelho Arrais, Sarhan Sydney Saad