XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Caso raro de paracoccidioidomicose gastroduodenal em paciente portadora de doença de Crohn

Apresentação do Caso

CE, feminina, 47 anos, caucasiana, portadora de doença de Crohn diagnosticada em 2019, classificação de Montreal A3L3+L4B2. Desde 2019 com acometimento gastrointestinal alto e íleo-colônico, com lesões ulceradas pré-pilóricas e duodenal em endoscopia digestiva alta (EDA) e estenoses em cólons ascendente e transverso em colonoscopia. Como primeira opção terapêutica, usou comboterapia com azatioprina e infliximabe. Por persistência sintomática e alteração de provas inflamatórias foi otimizado anti-TNF, ainda sem resposta satisfatória. Na sequência, foi trocado biológico para adalimumabe, também sem remissão da doença.
Em 2021 foi submetida a internação hospitalar por anemia refratária com necessidade de hemotransfusão. Em investigação, tomografia computadorizada de abdome evidenciou suboclusão de trânsito gastrointestinal, com estômago distendido, espessamento parietal concêntrico na 2ª e 3ª porção duodenais. EDA com extensa lesão ulcerada pré-pilórica de 4cm (aumento em relação a exames anteriores) e estenose circunferencial em 2ª porção duodenal que impedia progressão do aparelho. Histopatológico demonstrou tecido de granulação e presença de estruturas fúngicas, favorecendo o diagnóstico de paracoccidioidomicose. Paciente sem alterações pulmonares ou sistêmicas, fechou o diagnóstico de paracoccidioidomicose com comprometimento gastrointestinal isolado.

Discussão

A paracoccidioidomicose é a micose mais prevalente da América Latina, causada pelos fungos Paracoccidioides spp. Atualmente 80% dos casos concentram-se no Brasil. Pode ter acometimento sistêmico ou isolado, com múltiplas formas de apresentação. O trato gastrointestinal pode ser afetado, principalmente em delgado e cólon, apresentando características endoscópicas similares à doença de Crohn. A doença duodenal é rara. Pode se manifestar com diarreia sanguinolenta, dor abdominal e síndrome disabsortiva. Na fisiopatologia da doença, o TNF-alfa é responsável pela modulação da resposta imune no combate ao fungo. O uso de anti-TNF em pacientes sem diagnóstico reconhecido desta micose pode ser devastador. Para o diagnóstico a biópsia é fundamental. O tratamento baseia-se no uso de sulfametoxazol-trimetoprim, itraconazol ou anfotericina B.

Comentários finais

O caso demonstra a importância da alta suspeição diagnóstica desta micose, já que o Brasil é a principal área endêmica. Reiteramos a importância de estudos acerca deste tema em portadores de doença de Crohn, visto que a doença inflamatória intestinal configura diagnóstico diferencial.

Palavras-Chave

Paracoccidioidomicose; paracoccidioides; duodeno; doença de Crohn; diagnóstico diferencial

Área

Gastroenterologia - Intestino

Autores

Vivian Souza Menegassi, Elisa Cantú Germano Dutra, Daniela Estephany Delgado Guevara, Luiz Augusto Cardoso Lacombe