Dados do Trabalho
Título
O papel da paracentese diagnóstica na elucidação de uma etiologia incomum de ascite
Apresentação do Caso
Paciente do sexo masculino, 77 anos, admitido com quadro de ascite grau III há três anos, refratária a diureticoterapia, com necessidade frequente de paracenteses de alívio. Ao exame não apresentava estigmas de hepatopatia e o laboratório da admissão demonstrava função hepática preservada, corroborado por ecodoppler sem alterações em parênquima e vasos hepáticos. A análise do líquido ascítico (LA) revelou gradiente de albumina soro-ascite (GASA) de 1,3 e proteína total de 4,4g/dL, o que levou a hipótese de ascite de etiologia cardiogênica. O NT-proBNP sérico estava elevado (2780 pg/mL), porém ecocardiograma transtorácico evidenciou apenas disfunção diastólica leve de ventrículo esquerdo e câmaras direitas sem alterações. Realizada então RNM cardíaca, a qual revelou áreas focais de espessamento de até 3mm relacionadas a parede livre do ventrículo direito e achatamento da parede inferior basal durante a diástole. Solicitada manometria cardíaca, após suspensão de diuréticos, que demonstrou sinal da raiz quadrada e a equalização das pressões diastólicas, achados estes compatíveis como diagnóstico de pericardite constritiva oculta. Indicado tratamento cirúrgico com realização de pericardiectomia.
Discussão
A ascite resulta de descompensação de várias patologias, cuja principal é a hipertensão portal secundária à cirrose hepática. A ascite com GASA e proteína elevada sugere o diagnóstico de ascite cardiogênica, e assim a dosagem do peptídeo natriurético cerebral (BNP) direciona o seguimento propedêutico, uma vez que sua elevação possui alto valor preditivo positivo para etiologia cardíaca. A pericardite constritiva oculta é de difícil diagnóstico tanto pela sua raridade, quanto por sintomas atribuíveis a outras causas mais comuns. Poucos casos até o momento foram descritos na literatura, podendo ter exames cardiológicos iniciais normais.
Comentários finais
A história clínica e o exame físico, além de análise bioquímica do LA são fundamentais na investigação etiológica da ascite. No caso em questão, mesmo com o ecocardiograma transtorácico normal, a presença de GASA e proteína total elevados no LA culminou na solicitação da manometria cardíaca, chegando-se ao diagnóstico da pericardite constritiva oculta, uma rara causa de ascite.
Palavras-Chave
Ascite, Pericardite, Paracentese
Área
Gastroenterologia - Miscelânea
Autores
Gustavo Amaral Silva, Carolina de Souza Antoniêto, Nathália Marçal Tostes, Lais Rodrigues Maffia, Maria de Lourdes Abreu Ferrari