Dados do Trabalho
Título
Pancreatite aguda por áscaris lumbricoides: relato do caso
Apresentação do Caso
Paciente masculino, 65 anos, obeso mórbido, dá entrada na emergência em função de dor abdominal, febre e vômito. Apresentava amilase 1286 U/L, lipase 1147 U/L e tomografia computadorizada (TC) do abdome confirmava pancreatite aguda sem complicações. Ultrassonografia (USG) do abdome identifica áscaris em vesícula biliar. Após tratamento clínico, submetido a videocolecistectomia, que transcorreu sem intercorrências. Retornou após uma semana com quadro de anemia e piora clínica. TC abdome controle evidenciou líquido pararrenal à esquerda e lesão em lobo esquerdo do fígado. Solicitada colangioressonância magnética, que paciente não realizou em função de incompatibilidade de seu peso com a máquina. Após alguns dias, e mantendo tratamento conservador, realizou nova TC abdome, que evidenciou aumento da lesão hepática, surgimento de coleções peripancreáticas, esplenomegalia e líquido livre. Após tentativa de passagem de Sonda Nasoentérica via endoscópica, paciente broncoaspirou, necessitando de intubação orotraqueal, sendo transferido para Unidade de Terapia Intensiva, onde permaneceu por 4 dias, evoluindo a óbito por provável insuficiência renal e choque séptico de foco pulmonar.
Discussão
ASCARIS LUMBRICOIDES é muito comum em países subdesenvolvidos. A transmissão dá-se por via fecal-oral, com o parasita comumente visto no intestino delgado, sendo a invasão das vias biliares como uma tendência desses organismos em penetrar redes murais e pequenos orifícios. A ocorrência em vesícula biliar é rara, presente em apenas 2,1% dos casos. O envolvimento hepatobiliar pode causar obstrução de ducto cístico, colangite e até simular quadro de colecistite aguda. Também podem ocasionar quadro de pancreatite aguda, devido a obstrução a nível de papila de Vater e/ou ducto pancreático. O diagnóstico tem foco na USG, podendo também utilizar-se da colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, pois, além de diagnóstica, pode ser terapêutica; ou da colangiografia transoperatória. O tratamento pode ser conservador/anti-helmíntico, ou cirúrgico, para tratamento de complicações.
Comentários finais
A ascaridíase envolvendo o sistema hepatobiliar é uma entidade clínica rara e seu diagnóstico é difícil. Deve ser considerada em pacientes com fator de risco de exposição ao patógeno e sem causa elucidada. Embora seja condição relativamente benigna com resolução espontânea, existem casos complicados e que podem vir a ser fatais, e por isso é imperativo que seja suspeitada, reconhecida e tratada precocemente.
Palavras-Chave
ascaris lumbricoides; vesícula biliar; pancreatite aguda
Área
Cirurgia - Miscelânea
Autores
Luiza Seganfredo Mainardi, Nathalia Beck Corrêa, Fernanda Carlotto, Alessandra Morassutti