Dados do Trabalho

Título

Mucormicose gástrica: uma rara infecção oportunística em paciente HIV+ com Covid 19

Apresentação do Caso

Paciente do sexo masculino, 30 anos, HIV+ há 8 anos sem tratamento prévio (carga viral elevada e contagem de células TCD4+ de 27), foi internado com quadro de anemia, vômitos e febre intermitente. Evoluiu com icterícia, insuficiência renal, confusão mental, disfagia e anemia necessitando transfusão de grande quantidade de hemoderivados, sendo solicitada endoscopia para investigação. O estômago apresentava-se repleto de sangue vivo e digerido dificultando o exame do corpo gástrico. Foram evidenciadas lesões planas vinhosas em esôfago, além de múltiplas lesões vinhosas e ulceradas (aspecto de vulcão) no estômago, bulbo, segunda e terceira porção do duodeno compatíveis com Sarcoma de Kaposi (diagnóstico confirmado nas biópsias). O paciente evoluiu com enterorragia, hipotensão e dispnéia, necessitando de ventilação mecânica. O exame de PCR para Sars-COV-2 foi positivo. Nova endoscopia revelou o estômago limpo, sem sangue, tendo sido observado, além das lesões vinhosas descritas, uma lesão ulcerada extensa em corpo gástrico, de aspecto enegrecido, friável, sugestiva de lesão isquêmica. O estudo histológico das biópsias coletadas
evidenciou fungo filamentoso da ordem Mucorales (Mucormicose). O paciente evoluiu a óbito devido a quadro de abdome agudo perfurativo (autópsia não realizada).

Discussão

A Mucormicose, infecção oportunista causada por fungos da classe dos Zigomicetos, tem despertado interesse pelo aumento da sua incidência em pacientes com Covid19. A infecção se dá por inalação ou inoculação de esporos por quebra da barreira cutâneomucosa. Geralmente afeta pacientes imunodeprimidos, principalmente diabéticos, transplantados, em terapia imunossupressora e nos portadores do HIV. Pode acometer qualquer sítio, porém a forma clínica mais comum é a rino-orbitocerebral. O acometimento gastrointestinal é raro e quando ocorre, o estômago é o sítio mais afetado. Nestes casos, os sintomas podem ser inespecíficos (febre, dor abdominal, vômitos) ou evoluir com hemorragia digestiva e perfuração gastrointestinal por invasão do fungo na mucosa gástrica. Em geral, confirma-se a infecção através da análise histológica das biópsias da lesão onde são observadas hifas asseptadas, dicotômicas, com ramificação em 90º, além de esporos dentro de vasos sanguíneos.

Comentários finais

Por ter alta mortalidade e necessitar de tratamento precoce, a mucormicose deve ser sempre considerada nos achados de úlceras de aspecto enegrecido durante a endoscopia especialmente imunodeprimidos portadores de Covid 19.

Palavras-Chave

Mucormicose, estômago, síndrome da imunodeficiência adquirida, COVID-19, hemorragia
gastrointestinal, Sarcoma de Kaposi.