Dados do Trabalho
Título
Colestase persistente após Covid-19 grave: relato de dois casos.
Apresentação do Caso
Trata-se de dois pacientes do sexo masculino, de 46 e 52 anos, com internação prolongada por COVID-19 grave, sem história de hepatopatia prévia. Um deles apresentava alteração importante de transaminases à admissão e o outro com enzimas hepáticas normais à admissão. As internações tiveram duração de 71 e 73 dias, com passagem por unidade de terapia intensiva, necessidade de ventilação mecânica, uso de droga vasoativa, infecções secundárias e lesão renal aguda com necessidade de hemodiálise. Um dos pacientes apresentou episódio de parada cardiorrespiratória revertida. Ambos evoluíram com alteração persistente de enzimas canaliculares, com aumento de bilirrubina e predomínio da fração direta, mesmo após recuperação do quadro pulmonar e renal. As Colangioressonâncias excluíram dilatação de vias biliares. As biópsias hepáticas evidenciaram agressão ductal, uma delas com ductopenia e outra com fibrose concêntrica periductal e formação de microcálculos. Um paciente evoluiu para óbito por causa desconhecida e o segundo persiste com alterações das enzimas canaliculares até a presente data, tendo evoluído com cirrose hepática.
Discussão
Estudos recentes demonstram aumento da expressão de receptores da enzima conversora da angiotensina-2 (ECA-2) nos colangiócitos, um ligante do coronavírus. As alterações na bioquímica hepática observadas em pacientes com COVID-19 são multifatoriais, com contribuição da resposta inflamatória imunomediada, da hepatotoxicidade por drogas, da isquemia ou congestão hepática e da lesão direta de canalículos biliares pelo tropismo viral.
Não se sabe se há reservatório de multiplicação viral nos colangiócitos pela sua maior expressão de ECA-2, porém, em vários estudos foram mostradas a presença de partículas virais no tecido hepático. Acredita-se que a colangiopatia pós-COVID seja uma associação da colangite esclerosante secundária do paciente crítico e da lesão hepática direta causada pelo próprio vírus. Essa alteração cursa com colestase persistente mesmo após cessar os fatores agressores como drogas e o processo inflamatório agudo.
Comentários finais
Os casos de colestase persistente pós COVID-19 podem representar uma nova entidade nosológica. Essa é uma complicação com alta morbidade por lesão hepática progressiva com potencial evolução para cirrose biliar e necessidade de transplante de fígado. A fisiopatologia ainda não é completamente compreendida e requer mais estudos.
Palavras-Chave
Colestase pós Covid-19; Colangite Esclerosante Secundária do paciente crítico; Covid-19.
Área
Gastroenterologia - Fígado
Autores
Gabriela De Souza Bueno, Márcia Guimarães Villanova, Anna Gabryela Medeiros Afonso De Carvalho, Marília Adriano Mekdessi, Felipe Nelson Mendonça, Mariana Magalhães Alves, Janedson Baima Bezerra Filho, Isabela De Souza Mateus, Renan Nunes Da Cruz