Dados do Trabalho
Título
Ascite por gastroenterite eosinofílica – um desafio diagnóstico
Apresentação do Caso
Masculino, 26 anos, internado por dor abdominal progressiva e ascite há 10 dias, além de perda de peso não quantificada e diarreia aquosa. Sem comorbidades prévias. Exame físico não demonstrava sinais de hepatopatia crônica. Exames laboratoriais com leucocitose eosinofilia (29%). Estudo do líquido ascítico com gradiente albumina soro-ascítico (GASA) de 0,5g/dl, bioquímica e celularidade sem alterações. Pesquisa de adenosina deaminase, citologia oncótica, culturas para fungos e bactérias negativas. Diante do resultado do GASA, foi solicitada tomografia do abdome que revelou espessamento parietal difuso das alças intestinais, além de endoscopia digestiva alta que evidenciou gastrite enantematosa leve do antro. Histopatológico das biópsias gástricas, bulbo e segunda porção duodenal sem achados significativos. Realizado tratamento com antiparasitários de forma empírica, para cobertura dos principais helmintos causadores de eosinofilia periférica. Sem melhora do quadro, optado por videolaparoscopia diagnóstica, que revelou espessamento da parede de alças intestinais. Nova análise do líquido ascítico revelou uma presença expressiva de eosinófilos. O estudo histopatológico de fragmentos do peritônio pélvico demonstrou infiltrado inflamatório rico em eosinófilos, com mais de 20 eosinófilos por campo. O diagnóstico de gastroenterite eosinofílica (GEE) subserosa foi aventado, com boa resposta ao tratamento com corticoterapia oral
Discussão
A GEE é caracterizada pelo infiltrado nos tecidos do trato digestivo por eosinófilos, sua manifestação clínica depende da camada do trato gastrointestinal acometida, sua localização e extensão. A forma subserosa é uma apresentação rara da GEE que pode cursar com ascite isoladamente ou ascite acompanhada de sintomas comuns às formas mucosa e muscular da doença, como disabsorção e obstrução intestinal, além de intensa eosinofilia periférica.
Comentários finais
O diagnóstico da forma subserosa da GEE é desafiador e necessita descartar uma série de condições que levam a eosinofilia periférica, sintomas gastrointestinais e ascite. No caso, chama-se a atenção a rápida evolução para ascite e o percurso até o diagnóstico. As múltiplas biópsias não foram elucidativas, assim como, a contagem automatizada de células do líquido ascítico pode, equivocadamente, contabilizar neutrófilos ao invés de eosinófilos, distanciando ainda mais o diagnóstico, o qual apenas foi confirmado através de biópsia cirúrgica.
Palavras-Chave
Ascite, gastroenterite eosinofílica, diagnóstico.
Área
Gastroenterologia - Intestino
Autores
Farisa Cecília Silva Lúcio, Fernando Jorge Firmino Nóbrega, Juliana Barbosa Lima, Rafaella Freitas Amorim Wanderley, Alex Novais Batista, Letícia Pinheiro Melo