XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Leucemia promielocítica aguda associada à azatioprina em um paciente com doença de Crohn: Relato de caso

Apresentação do Caso

Trata-se de um paciente do sexo masculino de 69 anos, acompanhado por doença de Crohn ileocolônica com fenótipo estenosante diagnosticado em 1994. Encontrava-se em uso regular de mesalazina 3,2g ao dia com controle adequado dos sintomas. Em 2016, evoluiu com descompensação da doença, sendo otimizado o tratamento com a azatioprina 0,85 mg/kg/dia. O hemograma era normal antes da introdução da droga. Em 3 meses, apresentou-se com neutropenia grave com 400 neutrófilos/mm³, sendo atribuída inicialmente à toxicidade medular da azatioprina, motivando a suspensão do medicamento. Posteriormente, devido persistência da neutropenia, foi prontamente investigado, seindo identificado no mielograma infiltração maciça por blastos hipergranulares quantificada em 93%, presença de bastonetes de Auer e coloração pela mieloperoxidase fortemente positiva, levantando a hipótese de leucemia promielocítica aguda (M3). A avaliação da medula óssea e análise citogenética mostraram alterações compatíveis com tal afecção. Apesar da gravidade do caso, a quimioterapia foi administrada com sucesso. O paciente entrou em remissão clínica de ambas as doenças, recebendo alta no 45° dia de internação hospitalar.

Discussão

As tiopurinas, isto é, azatioprina e a 6-mercaptopurina são drogas comumente utilizadas na prática clínica, principalmente nas doenças autoimunes, neoplasias e pós-transplantes. A azatioprina constitui uma pró-droga que é metabolizada em 6-mercaptopurina (6-mp), principal metabólito relacionado com o efeito do fármaco na redução de linfócitos, imunoglobulinas e interleucinas. Em nosso paciente, não foi mensurado o nível de 6-mp e a atividade da enzima tiopurina S-metiltransferase, no entanto, em decorrência da rápida depressão medular observada após apenas 2 semanas do início da azatioprina, é possível inferir que existam mutações genéticas relacionadas com metabolismo da droga. Se por um lado os efeitos adversos hematológicos e citopênicos da azatioprina são bem estabelecidos, casos de neoplasias hematológicas como linfomas e leucemias são raros e infrequentes. Embora a associação entre azatioprina e a LMA pareça forte, essa relação causal é difícil de ser comprovada, uma vez que o risco inerente de neoplasias é aumentado em pacientes com doenças autoimunes.

Comentários finais

Conclui-se, a partir desse relato de caso, que esse achado deve ser considerado ao analisar os riscos e benefícios em iniciar a terapia com tiopurina para doença inflamatória intestinal, sobretudo em pacientes idosos.

Palavras-Chave

Leucemia promielocítica aguda; Doença inflamatória intestinal; Azatioprina; Doença de Crohn

Área

Gastroenterologia - Intestino

Autores

Janedson Baima Bezerra Filho, Felipe Nelson Mendonça, Marília Adriano Mekdessi, Renan Nunes da Cruz, Anna Gabryela Medeiros Afonso de Carvalho, Gabriela de Souza Bueno, Isabela de Souza Mateus, Mariana Magalhães Alves Rocca, Sandro da Costa Ferreira