Dados do Trabalho
Título
Colangiopatia associada à infecção por SARS-CoV-2: relato de caso
Apresentação do Caso
Paciente masculino de 64 anos, hipertenso e diabético, internado de junho a agosto de 2020 por infecção por COVID-19, evoluindo com insuficiência respiratória, instabilidade hemodinâmica e lesão renal aguda. Além disso, evoluiu com pneumonia relacionada à ventilação mecânica e candidemia. Após 17 dias, apresentou alterações de testes hepáticos e a ultrassonografia evidenciou colecistopatia calculosa. Após 65 dias internado, apresentou pancreatite aguda e a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) evidenciou discreta irregularidade e ectasia de alguns segmentos biliares intra-hepáticos. Paciente apresentou melhora clínica, porém manteve elevação de enzimas canaliculares e de aminotransferases. Em fevereiro de 2021, apresentou icterícia, prurido, dor abdominal e febre. Nova CPRM evidenciou múltiplas estenoses e dilatações focais de vias biliares intra-hepáticas, sugestivas de colangite esclerosante. Pesquisa de autoanticorpos foi negativa, imunoglobulinas e colonoscopia normais. Paciente apresentou melhora clínica com antibioticoterapia e colestiramina e recebeu alta com prurido leve.
Discussão
A colangiopatia pós-COVID-19 é uma entidade recentemente proposta, com poucos casos descritos na literatura. Sua apresentação é semelhante à colangite esclerosante do paciente crítico, ocorrendo em indivíduos clinicamente instáveis, que desenvolvem estenoses e dilatações da árvore biliar intra-hepática, com acúmulo e obstrução por cilindros biliares. Lesões hepáticas agudas são comuns na COVID-19, com apresentação pleomórfica que inclui quadros colestáticos, tipicamente de evolução mais lenta que as lesões hepatocelulares. Estudos de autópsias de pacientes com COVID-19 observaram esteatose macrovesicular, atividade necroinflamatória lobular e portal leve e microtrombos sinusoidais, além da identificação de RNA viral no interior de colangiócitos. Dano da árvore biliar com necrose de colangiócitos é provavelmente multifatorial, com isquemia por microangiopatia trombótica, lesão direta pelo SARS-CoV-2 e injúria imunomediada relacionada à síndrome de liberação de citocinas exercendo papéis relevantes. Tratamento com ácido ursodesoxicólico e procedimentos endoscópicos de drenagem têm sido utilizados, com resposta variável.
Comentários finais
O surgimento de colangiopatia após infecção grave por COVID-19 é uma entidade nova, com fisiopatogenia e história natural incertos, sendo necessários mais estudos para sua melhor compreensão.
Palavras-Chave
Colestase, covid, colangiopatia
Área
Gastroenterologia - Fígado
Autores
Thaís Viana Tavares Trigo, Marcel Lima Andrade, Lucas Teixeira Diniz, Marjorie Desireé Medrado Mascarenhas, Talita Ramos de Alencar Silva, Dalyane Cristina Martins Machado, Alex Rodrigues Fonseca, Ana Cristina de Castro Amaral, Roberto J. Carvalho-Filho