XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Alterações de hepatograma em paciente com hanseníase: Diagnósticos diferenciais

Apresentação do Caso

Paciente masculino, 38 anos, solteiro, auxiliar de serviços gerais, com quadro de eritema nodoso, neuropatia sensitivo-motora e múltiplas lesões cutâneas infiltrativas, com redução de sensibilidade. Feito diagnóstico de Hanseníase Virchowiana em julho de 2019. Iniciado poliquimioterapia padrão com rifampicina, clofazimina e dapsona. Evoluiu com febre, adinamia, hepatoesplenomegalia associada a icterícia, colúria e aumento de fosfatase alcalina e bilirrubina direta, sem fator obstrutivo de vias biliares. Após investigação, optou-se por suspender o esquema devido suspeita de lesão hepática induzida por droga (DILI). Em seguida, trocado para esquema alternativo (rifampicina, ofloxacino e clofazimina). Após 8 meses do tratamento, apresentou novo aumento de enzimas hepáticas com padrão hepatocelular. Suspeita de hepatite por rifampicina, com melhora parcial após sua suspensão. Reintroduzido esquema com ofloxacina, clofazimina e minociclina. Após dois meses, evoluiu com neurite aguda ulnar e fibular, náuseas, vômitos e adinamia, além de fosfatase alcalina 6 vezes acima do limite superior da normalidade. Ao exame, paciente sem estigmas de hepatopatia crônica, com xerose cutânea e madarose, mãos em garra ulnar, além de espessamento neural ulnar e fibular. Fígado aumentado e doloroso. Hipóteses diagnósticas de reação e hepatite hansênicas e DILI. Submetido a biópsia hepática que evidenciou hepatite granulomatosa não necrosante com eosinófilos de permeio e macrófagos espumosos e pesquisa de BAAR positiva, corroborando diagnóstico de hepatite hansênica.

Discussão

A hanseníase é uma infecção granulomatosa crônica multissistêmica causada pelo Mycobaterium leprae. O Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase. O fígado é o quarto órgão mais acometido. Os mecanismos de lesão hepática podem ser diretos com lesões granulomatosas e indireto, como quadros reacionais e lesões medicamentosas, além de fibrose e depósito de amilóide. Os sintomas são inespecíficos, como epigastralgia, náuseas e vômitos. Os principais diagnósticos diferenciais de aumento de enzimas hepáticas nesses pacientes são entre DILI e reação hansênica com infiltração hepática.

Comentários finais

Hanseníase é endêmica no Brasil. Depois de pele, nervos periféricos e linfonodos, o fígado é órgão mais acometido. Alterações no hepatograma decorrem da própria doença e de medicações. O tratamento adequado da infecção resulta em melhora na hepatite hansênica, enquanto DILI melhora com a suspensão da droga.

Palavras-Chave

Hepatite hansênica; Lesão hepática induzida por droga; Granuloma hepático

Área

Gastroenterologia - Fígado

Autores

Fernanda Costa Azevedo, Caio Guimarães Araújo, Carla Almeida Rodolfo, Maria da Penha Zago Gomes, Izabelle Venturini Signorelli, Amanda Carréra Moreno