XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

Colangiopatia pós-Covid-19 com progressão para doença crônica parenquimatosa do fígado avançada e descompensada: Relato de Caso

Apresentação do Caso

Paciente do sexo masculino, 62 anos, com HAS, diabetes-2, obesidade e internamento prolongado devido COVID-19 em Junho/2020. Durante hospitalização, foi necessário hemodiálise, múltiplos antibióticos para tratar germes multirresistentes em hemoculturas, uso drogas vasoativas por choque séptico e desmame difícil da ventilação mecânica, com confecção de traqueostomia e posterior evolução com estenose de traqueia. Após 5 meses da alta, procurou atendimento especializado em hepatologia por síndrome colestática, com enzimas canaliculares aumentadas (FA-2389, GGT-1940, AST-110, ALT-99, BT-6,9). Durante investigação, realizado CPRM com colelitíase, porém sem alterações de colédoco, sem sinais de dilatação intra ou extra-hepática. Submetido a CPRE, com sinais de irregularidades difusas em via biliar intrahepática, com estreitamentos entremeados por árvore biliar intra-hepática normal sugestivas de colangiopatia intra-hepática, sem cálculos. Encaminhado, então, para biópsia hepática, que evidenciou exuberante reação ductular em espaços-porta, com intensa colestase lobular associada. Paciente seguiu em uso de ac. ursodesoxicólico 15mg/kg/dia, mantendo quadro (FA -740, GGT-229, AST-89, ALT-43, BT-13). Após 14 meses da Covid-19, cursou com ascite e piora da função hepática e exames compatíveis com doença crônica parenquimatosa do fígado Child B9/Meld 20, preenchendo critérios para transplante hepático.

Discussão

A colangiopatia pós covid é uma nova entidade nosológica que tem surgido em pacientes, sem nenhuma doença hepática crônica preexistente, que apresentaram quadros graves relacionados ao COVID-19, que desenvolveram colestase crônica e lesão hepática. Ilustramos o caso de um paciente que após internamento prolongado por Covid-19 evoluiu com aumento importante de enzimas canaliculares, diagnosticado com colangiopatia pós-Covid e evoluindo para doença crônica parenquimatosa do fígado com posterior indicação de transplante hepático. Nossa preocupação é que esta colangiopatia pós-COVID possa levar a lesão hepática progressiva com potencial necessidade de transplante de fígado, como o caso descrito, onde não foram observados outros fatores que justificassem essa evolução, a não ser complicações secundárias a essa infecção que ainda gera tantos questionamentos e dúvidas.

Comentários finais

O diagnóstico diferencial e acompanhamento em longo prazo de pacientes com colestase e Covid-19 de apresentação grave devem ser feitos, a fim de traçar estratégias para esta condição e tentar minimizar danos.

Palavras-Chave

colangiopatia pós-covid, doença crônica parenquimatosa do fígado, transplante hepático, COVID-19

Área

Gastroenterologia - Fígado

Autores

Raisa Araujo Lisbôa, Larissa Fernandes da Fonseca, Thaís Teles Justiniano Miranda, Ana Clara Barcelos da Silva Souza, Daniela Mascarenhas Matos Chaib, Isabela Freitas de Oliveira, Aloma C. M. Campeche Leao, Maria Alice Soares, Jaciane Mota Fontes, Daniela R. M Gotardo, Lourianne Nascimento Cavalcante