Dados do Trabalho
Título
Colangite de repetição e transplante hepático por Colangiopatia Pós-COVID-19: relato de caso
Apresentação do Caso
Trata-se de paciente masculino, 70 anos, hipertenso, diabético, portador de fibrilação atrial paroxística, encaminhado por elevação de enzimas canaliculares após 8 meses de quadro de COVID-19 – FA 504 (vn: 126), GGT 818 (vn: 12-43), ALT 38 (vn: <35), AST 42 (vn: 14-36), BT 1,6. A colangiorressonância (CPRM) demonstrava estenoses multifocais de vias biliares intra-hepática, interpostas por dilatações. Possuía história de internamento em UTI (julho a outubro de 2020) por COVID-19, tendo cursado com choque séptico e necessidade de ventilação mecânica prolongada. Em nosso serviço, evoluiu com sepse por colangite de repetição, sendo isolada bactéria multi-droga resistente (klebisiella) em hemocultura. Foi iniciado ácido ursodesoxicólico (15mg/kg/dia) e à reavaliação apresentava fígado de aspecto cirrótico e sinais de hipertensão portal. Segue em uso de antibioticoterapia, aguardando transplante hepático.
Discussão
Recentemente casos vem sendo descritos de uma nova entidade, denominada de Colangiopatia Pós-COVID-19 (CPC). Tipicamente desenvolve-se em casos de pacientes que apresentaram COVID-19 grave e apresenta-se de forma similar à Colangiopatia do Doente Crítico (CDC). Manifesta-se à colangiografia com estenoses difusas de via biliar intra-hepática entremeadas por dilatações focais. Esses pacientes apresentam em grande maioria fatores de risco para Colangiopatia do Doente Crítico: hipotensão, uso de vasopressores, ventilação com PEEP alta, posição prona. Trazemos um caso de características clínicas de ambas entidades citadas, incluindo presença de fatores de risco para tal, e apresentação colangiográfica compatível. Ademais, apresentou evolução com colangite de repetição e necessidade de transplante hepático.
Comentários finais
Ao longo da pandemia de COVID-19 sequelas tem sido observadas, dentre elas a lesão hepática com características colestáticas. Sugere-se que o Sars-Cov-2 possa ter ação direta de injúria biliar, uma vez que 58% dos colangiócitos expressam o receptor da enzima de conversão da angiotensina-2. A CPC pode tratar-se de uma combinação entre a Colangiopatia do Doente Crítico e lesão direta pelo vírus COVID-19 ao colangiócito. Não existe tratamento descrito, mas, alguns casos já preenchem critérios para o transplante hepático, podendo, em perspectiva, existir aumento do número de transplantes associados a esta indicação.
Palavras-Chave
Colangiopatia pós-COVID-19; Colangiopatia do Doente Crítico; Transplante Hepático; Colangite.
Área
Gastroenterologia - Fígado
Autores
Lourianne Nascimento Cavalcante, André Castro Lyra, Jaciane Araujo Mota Fontes, Rosicreusa Marback de Souza, Sandra Sousa Santos de Figueiredo, Ylanna Fortes Fonseca, Daniele de Carvalho Cerqueira, Laíza Lobão Alves, Rebeca Novaes Gonçalves