XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

COLESTASE CRÔNICA APÓS INFECÇÃO GRAVE POR COVID-19: RELATO DE CASO

Apresentação do Caso

Masculino, 64 anos, previamente hígido, foi internado por COVID-19 (6º dia de sintomas), sendo intubado no 4º dia de hospitalização. Ventilação mecânica e sedação por 9 dias. No 10º dia pós extubação e no final do tratamento com antibióticos, começou a apresentar prurido, inicialmente leve e nos pés, acentuando-se nas semanas subsequentes, assim como se tornando disseminado e com icterícia (+/4+). Admissão com exames normais, porém, após prurido, houve elevação das enzimas colestáticas(GGT=1580; FA=1870; BT=4,2; BD=3,8) e pouca elevação das aminotransferases(ALT=135; AST=115). Alta após 2 meses de internação, já sem icterícia (sem intervenção específica), porém mantendo colestase acentuada (GGT=1071; FA=879; BT=1,7). Sorologias de hepatites virais e autoimunidade negativas. Por persistência da colestase e do prurido, realizou colangioRM de abdome que evidenciou espessamento de vias biliares intra-hepáticas nos segmentos V, VI, VII e VIII, sugerindo colangite. Iniciado Ácido Ursodesoxicólico e Colestiramina, com melhora parcial da colestase e importante melhora do prurido. Nova colangioRM de abdome, após 6 meses do início da colestase, com leve dilatação irregular de vias biliares intra-hepáticas, intercaladas com áreas de estreitamento focal, aspecto de “colar de pérolas”, em segmento V, sugerindo colangite esclerosante secundária pós-COVID. Permanece atualmente com colestase(GGT=436; FA=711), apesar do uso continuo das medicações citadas.

Discussão

Alterações sugestivas de colangiopatia no paciente grave pós COVID-19 estão sendo relatadas nos últimos 6 meses. Colangiopatia pós-COVID-19 parece representar uma confluência entre colangite esclerosante secundária do paciente em estado crítico e lesão hepática direta do COVID. Neste caso, a colestase persistiu, apesar do uso de medições direcionadas ao tratamento de doenças colestáticas. Essa cronicidade reflete danos celulares irreversíveis, piorando o prognóstico pela possível rápida progressão para cirrose biliar (40% dos casos). Ácido ursodexósicólico tem sido usado, mas seu efeito parece ser limitado.

Comentários finais

Colangiopatia pós-COVID parece ser uma nova entidade responsável por colestase (progressiva) pouco responsível às terapias disponíveis. Situação ainda pouco estudada, porém que precisa ser pensada em casos semelhantes ao apresentado. Sendo assim, diagnóstico precoce parece ser fundamental para início da terapia para, com isso, tentar a redução dos danos celulares permanentes que possam surgir.

Palavras-Chave

Colestase; COVID-19; Colangiopatia pós COVID

Área

Gastroenterologia - Fígado

Autores

Bruno Fernando Rodrigues Ferreira, Águeda Maria Ferreira Miranda, Cibele Franz