Dados do Trabalho
Título
Relato de caso: Enteropatia por Olmesartana: uma síndrome Doença Celíaca “like”
Apresentação do Caso
Homem de 76 anos, hipertenso, iniciou em dezembro de 2020 com uso de Olmesartana 40mg, evoluindo um mês depois com quadro de diarreia progressiva e perda ponderal (25 Kg em 7 meses), sem melhora aos tratamentos empíricos instituídos. O rastreio para causas infecciosas foi negativo. Marcadores séricos para doença celíaca negativos. Colonoscopia com protocolo de biópsias segmentares normal até o íleo terminal. Paciente seguiu com exacerbação clínica, sendo realizada Enterotomografia computadorizada, sem achados adicionais. Elastase pancreática reduzida, sendo introduzida pancreatina nas refeições, sem resposta. Principiou quadro de vômitos e foi solicitado Endoscopia Digestiva Alta, realizada no dia 27/04/21, evidenciando diminuição do pregueado mucoso da segunda porção duodenal, com o histopatológico apresentando encurtamento de vilosidades, desnudamento parcial da superfície, infiltrado inflamatório de lâmina própria, linfócitos intraepiteliais e hiperplasia de criptas (padrão MARSH 3B). Retirado glúten e lactose da dieta, sem melhora. Descontinuado uso de Olmesartana no dia 25/06/21, após hipótese de enteropatia relacionada à medicação. Paciente apresentou melhora clínica total em apenas 2 semanas e segue em ganho de peso.
Discussão
A Enteropatia por Olmesartana foi relatada recentemente, em 2012. Trata-se de uma doença rara, bem menos comum que outras doenças induzidas pelos bloqueadores do receptor da angiotensina II. A incidência descrita é de cerca de 1% entre os usuários da medicação. Sprue Celíaco e Enteropatia Autoimune prevalecem como diagnósticos diferenciais. Diarreia crônica com perda de peso significativa, que se desenvolve meses a anos após o início da medicação, associada à atrofia das vilosidades em exame de biópsia intestinal e teste de anticorpos para doença celíaca negativos, são as principais características. Os sintomas desaparecem após retirada da medicação, mas a sua reintrodução pode causar recidiva.
Comentários finais
A associação do uso de Olmesartana e enteropatia ainda está sendo estudada e a incidência parece ser baixa frente aos outros diversos efeitos colaterais da medicação, porém a gravidade do quadro diarreico, a debilidade clínica instituída ao paciente e sua possível dificuldade diagnóstica tornam importante a discussão deste tema. Essa associação deve ser lembrada em pacientes com quadro clínico típico de doença celíaca e que não respondem à restrição dietética de glúten.
Palavras-Chave
Olmesartana; Diarreia; Enteropatia; Sprue-like; Doença Celíaca like
Área
Gastroenterologia - Intestino
Autores
José Dayrell de Lima ANDRADE, Thaís Ramos de ALMEIDA