XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

COLANGIOPATIA DO DOENTE CRÍTICO SECUNDÁRIA À INFECÇÃO GRAVE POR COVID-19

Apresentação do Caso

Masculino, 62 anos, previamente hígido, internado por 3 meses por COVID19 grave, com necessidade de ventilação mecânica e uso de droga vasoativa. Durante a internação evoluiu com colangite, sendo tratado com antimicrobianos. Recebeu alta afebril, embora ictérico. Recorreu com febre uma semana após a alta quando foi atendido em nosso hospital. Na admissão apresentava exames laboratoriais: AST=140(37), ALT=79(41), FA=1700(129), GGT=943(61), BT=11, Proteína C reativa=166, leucócitos=27.350, plaquetas=316mil, RNI=1,15. A colangiorresonancia evidenciou múltiplas dilatações de ductos biliares intra-hepáticos, com conteúdo liquefeito, sugerindo abscessos colangiolíticos, sem fator obstrutivo; alterações já existentes em exame na internação anterior. Realizou colangiopancreatografia retrógrada endoscópica com papilotomia e varredura com saída de barro biliar. Iniciada antibioticoterapia empírica de amplo espectro. A despeito das múltiplas coletas, as culturas foram negativas. Aventada a hipótese de colangiopatia do doente crítico associada a colangite infecciosa. Após uso prolongado de antimicrobianos, houve apenas uma melhora parcial laboratorial com manutenção da elevação de prova inflamatória e de leucocitose, com recorrência da febre. Após 30 dias de internação foi optado pela inclusão do paciente em fila de transplante por colangites de repetição.

Discussão

As alterações hepáticas na COVID-19 são geralmente transitórias e remitem com a resolução da doença. Há inúmeras descrições de colestase grave e prolongada durante a fase de recuperação de pacientes com COVID-19 admitidos em estado crítico. Os achados clínicos e histológicos são semelhantes aos da colangite esclerosante secundária do doente crítico e na colangioRNM há múltiplas estenoses/irregularidades nas vias biliares intra e/ou extra-hepática com espessamento e realce da parede do ducto biliar. Especula-se que resulte da sobreposição de colangite esclerosante secundária do paciente crítico com lesão direta pelo vírus. A colangite bacteriana é uma das complicações mais frequentes, com formação de abscessos e frequentemente é refratária a antibioticoterapia. Dada a irreversibilidade e tendência de progressão do quadro, o transplante hepático é a única medida curativa.

Comentários finais

A pandemia pela COVID-19 fez aumentar o diagnóstico dos casos de colangiopatia do doente crítico. Dada a irreversibilidade do quadro, pode-se considerar a realização de transplante hepático em pacientes com repercussão clínica significativa.

Palavras-Chave

Colangiopatia, COVID-19, Colangite

Área

Gastroenterologia - Fígado

Autores

Olivia Duarte de Castro Alves, Diogo Delgado Dotta, Marília Galvão Cruz, Débora Raquel Benedita Terrabuio