Dados do Trabalho
Título
HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA POR TROMBOSE DE VEIA PORTA EM PACIENTE COM TROMBOFILIA E NÃO ANTICOAGULADA
Apresentação do Caso
Feminina, 22 anos - indígena com limitada comunicação em português - é internada por choque hemorrágico devido à HDA. Após estabilização hemodinâmica, a endoscopia digestiva alta revelou varizes esofágicas de médio calibre e estigmas que poderiam sugerir sangramento recente. Apresentava histórico de HDA desde os 7 anos, o qual culminou por ser encaminhada à esplenectomia com desconexão ázigos-portal aos 10 anos devido à hipertensão portal de causa trombótica. Foi submetida à investigação para trombofilias em 2018 com diagnóstico de deficiência de proteína C (DPC), porém sem anticoagulação por contraindicação social e risco de sangramento de varizes esofágicas. A angiotomografia mostrou TVP crônica com extensão à veia mesentérica superior e presença de transformação cavernomatosa. A paciente teve boa evolução após manejo clínico e endoscópico, tendo alta apenas com profilaxia secundária com betabloqueador não-seletivo (BBNS) para sangramento variceal.
Discussão
A proteína C é responsável por inibir a geração de trombina, tendo função anticoagulante. A deficiência congênita dessa proteína, consequentemente, gera um estado de hipercoagulabilidade sistêmico com manifestações precoces, como no caso relatado. A TVP é um fator de risco no desenvolvimento de HP e seu diagnóstico pode ser feito por meio de ecodoppler ou angiotomografia. Entre outros achados, a formação de varizes, com alto risco de complicações, pode causar sangramento potencialmente fatal. O tratamento da DPC grave com evidências de trombose é baseado na reposição dessa proteína, para anticoagulação plena vitalícia. Infelizmente, impasses quanto à terapia ocorrem. A varfarina, que requer controle estreito de INR e seguimento médico frequente, e os novos anticoagulantes, de alto custo, são inviáveis economicamente para a maioria da população. No caso da nossa paciente, de vida social em aldeia fechada, com suas complicações hemorrágicas tratadas pelos próprios moradores da tribo, o uso de varfarina era inviável, apesar da clara indicação.
Comentários finais
A hemorragia digestiva alta causa de 1 a 2% internações de urgência no Brasil. Essa situação endêmica levanta uma bandeira vermelha para a alta incidência desse tipo de urgência, sendo a trombose decorrente da deficiência de proteína C um dos diagnósticos diferenciais necessários que deve ser conhecido, visando ao manejo e a não recidiva do caso.
Palavras-Chave
Hemorragia digestiva alta; Trombose da Veia Porta; Deficiência da Proteína C
Área
Gastroenterologia - Estômago/Duodeno
Autores
Lucas Montiel Petry, Luiza Esteves Petzhold, Miriam Richartz Rosa, Lucas Eduardo Gatelli, Laura de Castro e Garcia, Carolina Boeira Soares, Carlos Kupski