Dados do Trabalho
Título
Coledococele: Diagnóstico diferencial de dor abdominal
Apresentação do Caso
Paciente de 34 anos, previamente hígido, procurou o pronto-socorro com história de epigastralgia de início há 2 meses e surgimento de icterícia no período. Relatava uso recente de amoxicilina e claritromicina para tratamento do H. pylori diagnosticado em endoscopia digestiva alta realizada devido a queixa de dor epigástrica. O paciente trazia consigo ainda ultrassonografia e tomografia abdominal com contraste venoso sem alterações relevantes. Exames laboratoriais à admissão evidenciavam aumento dos marcadores hepáticos (transaminases e predomínio de marcadores de colestase). Os episódios de dor em andar superior do abdômen se mantinham de caráter intermitente e em crise, mesmo com analgesia otimizada. Marcadores de hepatites virais A, B e C negativos. Devido ao quadro de dor biliar típica biliar e às alterações laboratoriais, foi realizada colangioressonância que mostrava dilatação focal entre a via biliar distal e o Wirsung, na região periampular, promovendo leve abaulamento da parede da segunda porção duodenal e sem sinais de dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas, bem como do ducto pancreático principal. Pensando-se em cisto de colédoco do tipo III (coledococele), foi realizada duodenoscopia sendo visibilizado abaulamento da papila duodenal maior, compatível com o diagnostico proposto. Após discussão clínica, o paciente foi submetido a papilotomia endoscópica seguida de biópsia do tecido exposto. Em consulta de seguimento após 4 semanas, apresentava melhora completa dos marcadores hepáticos e seguia assintomático. A biópsia realizada mostrou que o epitélio que cobria o cisto era de origem biliar, o qual confere maior risco de neoplasia biliar. O paciente foi encaminhado para centro especializado em via biliar para continuar o seguimento.
Discussão
Coledococele (cisto de ducto biliar comum tipo III segundo a classificação de Todani) é uma dilatação cística do segmento distal do ducto biliar comum se projetando para o lúmen duodenal. Considerado raro, representa menos de 2% dos casos relatados de cistos do ducto biliar comum. Os sintomas são variados e inespecíficos, sendo o diagnóstico definitivo realizado por duodenoscopia.
Comentários finais
Deve-se tratar a coledococele precocemente, evitando prolongamento dos sintomas como icterícia e dor, que podem levar a complicações mais graves, mas principalmente diminuição da qualidade de vida. A longo prazo, o maior risco é o surgimento de neoplasia da via biliar nos casos que permanecem assintomáticos.
Palavras-Chave
icterícia, colédoco, via biliar, duodenoscopia
Área
Gastroenterologia - Pâncreas e Vias Biliares
Autores
EMÍLIA ISABEL DA SILVA, RODRIGO LOVATTI