XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

DIAGNÓSTICO DESAFIADOR DE COLITE ISQUÊMICA EM PACIENTE TRANSPLANTADO HEPÁTICO

Apresentação do Caso

Homem, 59 anos, transplantado de fígado por cirrose alcoólica há um ano, em uso de tacrolimus, evoluiu com diarreia mucossanguinolenta, febre e dor abdominal há um mês. Sem outras comorbidades. Retossigmoidoscopia: mucosa edemaciada com áreas de enantema intenso em toda extensão avaliada. Pesquisa negativa para Clostridium difficile e infecções oportunistas. Tomografia computadorizada com processo inflamatório intenso em cólon esquerdo, sem tromboses vasculares. Iniciada antibioticoterapia e corticoide endovenoso, com piora sintomática. Nova retossigmoidoscopia evidenciou úlceras serpinginosas, longitudinais e circunferenciais, sugestivas de doença de Crohn. Realizado infliximabe, mas após melhora parcial, apresentou enterorragia de grande monta com necessidade de colectomia esquerda e confecção de colostomia. O histopatológico da peça foi compatível com colite isquêmica e o paciente evoluiu com melhora clínica e alta hospitalar.

Discussão

A colite no paciente transplantado é um desafio diagnóstico, devendo-se descartar inicialmente causas infecciosas diante da imunossupressão. Outra possibilidade é a doença inflamatória intestinal de novo, entidade rara, cuja incidência é aumentada no pós-transplante hepático por colangite esclerosante primária e hepatite autoimune; podendo acontecer também em transplantados por outras etiologias, a despeito do uso de imunossupressores. No caso descrito, o diagnóstico foi definido após análise da peça cirúrgica, contrariando as hipóteses diagnósticas iniciais. Tipicamente, a colite isquêmica acomete indivíduos idosos, com doença aterogênica ou fatores de risco cardiovasculares, bem como aqueles em uso de agentes quimioterápicos, vasopressores e drogas ilícitas. O quadro costuma ter evolução aguda, com dor abdominal, diarreia sanguinolenta e acometimento preferencial em flexura esplênica e transição retossigmoide. A apresentação do paciente foi atípica: não possuía fatores de risco habituais, a evolução foi insidiosa e as alterações endoscópicas não eram sugestivas de isquemia. A terapia se baseia em suporte clínico e antibioticoterapia, sendo a cirurgia usualmente indicada quando ocorre complicações.

Comentários finais

A colite no paciente transplantado apresenta diversos diagnósticos diferenciais, devendo-se afastar primeiramente quadros infecciosos, diante da imunossupressão. Apesar de incomum, a colite isquêmica deve ser considerada mesmo na ausência de fatores de risco ou de exames complementares sugestivos.

Palavras-Chave

Colite isquêmica; Transplante hepático.

Área

Gastroenterologia - Intestino

Autores

Mariana de Lira Fonte, Sabrina Rodrigues de Figueiredo, Marcus Vinícius de Acevedo Garcia Gomes, Aderson Omar Mourão Cintra Damião, Flair Jose Carrilho, Luiz Augusto Carneiro D'Albuquerque, Renee Mignolo Tanaka Ferreira, Bruna Damasio Moutinho, Matheus Freitas Cardoso de Azevedo, Débora Raquel Benedita Terrabuio