Dados do Trabalho


Título

Demência Reversível Pós-Lipoaspiração

Apresentação do caso

Uma universitária de 19 anos foi trazida à consulta por complicação durante cirurgia de lipoaspiração nas pernas e nos quadris. Segundo relato do cirurgião, ao fim do ato cirúrgico e concluída a anestesia peridural, a paciente desenvolveu cianose e hipoventilação, sendo imediatamente intubada e ventilada. Até o dia seguinte, permaneceu de olhos fechados sem responder a qualquer tipo de estímulo inteligível, embora localizasse estímulos nociceptivos (Escala de Glasgow = 8). Não havia sinais meníngeos, as pupilas reagiam à luz, e a estimulação plantar produzia resposta em extensão do hálux bilateralmente. No segundo dia, abriu os olhos espontaneamente, voltando a falar no terceiro. Recebeu alta da UTI no quarto dia, deixando o hospital ao fim de uma semana. Nove dias depois da cirurgia, encontrava-se confusa e disártrica, limitando-se a responder o que lhe era perguntado. Embora acordada e capaz de orientar a atenção visual para estímulos do ambiente, não sabia a data e onde estava, retendo apenas uma de três palavras após cinco subtrações seriadas de 7 a partir de 100 [Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) = 18/30]. Não lembrava dos eventos dos últimos meses (amnésia retrógrada), e não retinha os eventos ocorridos após a cirurgia (amnésia anterógrada). Preenchia os hiatos de memória com respostas confabulatórias. Andava com dificuldade devido a ataxia axial-locomotora, mas não apresentava sinal de Romberg, recuperando o equilíbrio quando impulsionada para trás. Em seis meses, a formação de memórias contínuas havia retornado, deixando hiato de amnésia de 6 meses, e a ataxia postural-locomotora remitiu por completo (MEEM = 30/30). Voltou a se orientar fora de casa e a sair sozinha, retomando os estudos sem dificuldade. RM realizadas uma semana e 1 ano depois da cirurgia foram normais.

Discussão

A disfunção cognitiva pós-operatória é caracterizada pelo comprometimento agudo e autolimitado da cognição global ou domínio-específica após a indução anestésica. Em geral, é de baixo grau, acometendo pacientes idosos submetidos a cirurgias de grande porte. O caso relatado difere do padrão por se tratar de uma paciente jovem que, durante cirurgia de pequeno porte, desenvolveu demência e ataxia locomotora que regrediram por completo em seis meses.

Comentários finais

Este caso ilustra o prognóstico favorável de acidentes anestésicos que se manifestam por grave comprometimento cognitivo-locomotor em vigência de RM normal.

Palavras-Chave

Disfunção cognitiva pós-operatória — Demência reversível — Complicação anestésica

Área

Outros Transtornos Psiquiátricos

Autores

ANA CLARA PINHEIRO DE OLIVEIRA, PEDRO MARANHÃO GOMES LOPES, CATARINA SODRÉ DE CASTRO PRADO, RICARDO DE OLIVEIRA SOUZA