Dados do Trabalho

Título

Efeito do ômega 3 na prevenção de recaídas no transtorno por uso de álcool: um ensaio clínico placebo-controlado e randomizado

Introdução

O transtorno por uso de álcool está associado a diversas consequências negativas a saúde, destacando-se como prioridade em saúde pública. Atualmente existem poucos tratamentos farmacológicos disponíveis para esta enfermidade. Dentre os desafios ao tratamento, podemos citar as recaídas, que podem atingir de 40 a 60% da população, dentro do período de um ano. Pesquisas recentes têm buscado os possíveis benefícios da ingesta do ômega-3, importante constituinte das membranas neuronais, para o tratamento do transtorno por uso de álcool.

Objetivo

Verificar a possível redução do número e da intensidade das recaídas, em pacientes dependentes de álcool que receberam a suplementação de ômega-3 durante 3 meses, com início durante a internação hospitalar.

Método

Foi realizado um estudo placebo controlado, duplo-cego, randomizado, com dependentes graves de álcool, internados. Participantes foram randomizados a um tratamento com ômega 3 (n=59) ou placebo (n=52) durante três meses. As cápsulas eram idênticas para ambos os tratamentos, administradas 3x/dia e continham 1g de substância. Os participantes foram avaliados mensalmente, durante a internação, e acompanhados por 2 follow-ups, de 6 e 12 meses após o fim do tratamento. As avaliações consistiram no preenchimento de instrumentos de autorrelato a respeito do consumo de álcool (Timeline Followback Method Assessment), severidade da dependência (Short Alcohol Dependence Data, Penn Alcohol Craving Scale, Obsessive-Compulsive Drinking Scale) e sintomas psiquiátricos (Beck Depression Inventory e Beck Anxiety Inventory).

Resultados

Por meio de uma abordagem analítica do tipo intention-to-treat e utilizando-se modelos generalizados mistos, pôde-se verificar que os grupos foram similares em parâmetros de quantidade de álcool consumida e propensão a recair. Como efeito favorável à intervenção pelo ômega, verificou-se uma redução no número de dias de consumo de álcool, após 2 meses (B=0,65 [0,09; 1,21], p=0,01) e três meses (B=2,6 [1,61; 3,58], p<0,001) do início do tratamento. Esse efeito não permaneceu nas avaliações de follow-up. Tanto na linha basal, quanto após tratamento, os grupos não apresentaram diferenças em relação a severidade da dependência e sintomas psiquiátricos.

Conclusão

Nossos resultados sugerem que o ômega 3 pode representar um complemento terapêutico para o tratamento do transtorno por uso de álcool e estimulam futuras pesquisas para avaliar os efeitos a longo prazo desse fármaco.

Financiamento: FAPESP (Processo #2015/19472-5), CAPES e AFIP.

Palavras-chave

ácidos graxos poli-insaturados, dependência de álcool, recaídas