Dados do Trabalho


Título

Uso da Clozapina em quadro delirante persistente e Síndrome de Cotard: um relato de caso

Apresentação do caso

Paciente MLSV, feminino, 47 anos. Iniciou acompanhamento no serviço em Janeiro
de 2018 com queixa de tremor, dormência de cabeça e do lado esquerdo do corpo, além de
sensação de “peso”, com uso de substâncias psicoativas. Foram frequentes as queixas de
prejuízo laboral e das atividades cotidianas, sendo comuns idas ao Pronto Socorro do Centro
Hospitalar do Município de Santo André. No decorrer das consultas, tentou-se a
administração de Tioridazina, Prometazina, Duloxetina, Olanzapina, Fluoxetina, Imipramina
e Nortriptilina, com otimização das doses, porém sem melhora do quadro. Houve relatos
frequentes de corrosão dos ossos e “secura” nos órgãos, cujo discurso permaneceu durante
anos, mesmo sob uso de Olanzapina. Em Fevereiro de 2021, ao suspender as medicações por
meios próprios, a paciente apresentou intensificação do discurso delirante e passou a se expor
a riscos, abandonando sua fonte de renda e passando a viver exclusivamente para sua doença.
Devido a falha do tratamento ambulatorial e aumento de sua exposição, solicitou-se na última
consulta a internação hospitalar para introdução de Clozapina, apesar de não conseguir vaga
no Hospital Estadual Mário Covas.

Discussão

Paciente apresentou leve melhora após
uso de Olanzapina. Apesar disso, começou a apresentar discurso de que a medicação estava
fazendo isso com o seu corpo e cessou seu uso por conta própria, ocasionando intensificação
dos sintomas bem como o posterior abandono de suas atividades diárias. A Clozapina segue
em programação de aumento de dose conforme protocolo e há progressão lenta do caso, cujo
relato tem como intuito a discussão do uso da Clozapina em tal quadro delirante persistente
com a síndrome de Cotard.

Comentários finais

A síndrome de Cotard é um distúrbio raro que tem como característica
central delírios niilistas a respeito do próprio corpo. Uma importante consequência da
síndrome é a auto-desnutrição, devido à negação da existência do eu. A idade dos pacientes
com Cotard varia de 16 a 81 anos, com média de 52 anos e maior predominância nas
mulheres (68%) do que nos homens. Entre pacientes que sofrem de depressão maior, a
prevalência da síndrome de Cotard foi de 3.2%. Considerada um caso extremo de depressão,
hipocondria ou psicose, a condição ainda permanece mal compreendida. Nesse sentido,
nota-se a relevância de novos estudos e relatos de caso sobre a síndrome.

Palavras-Chave

Cotard, Clozapina e Relato de caso

Área

Esquizofrenia/Psicoses

Autores

PEDRO HERMINIO ALMEIDA ANDRADE, GABRIEL SARTORI CALAZANS, NATASHA KOUVALESKI SAVIANO MORAN, GIOVANNA DA FONSECA BURIGO