Dados do Trabalho


Título

Síndrome de Cotard: Um relato de caso

Apresentação do caso

L, sexo feminino, 34 anos, foi levada pela irmã, para consulta psiquiátrica, com relato de que, há 3 meses, passou a “não sentir o próprio corpo pois foi transportada para o plano celestial”. Referia que não era capaz de sentir emoções ou sentimentos, e que Deus havia enviado um arcanjo para guia-la. Relatava que não possuía coração, e, mesmo após realização do ECG (eletrocardiograma), mantinha a persistência da ideia. Sentia também que não possuía estômago, pois o mesmo havia sido expulso em um episódio de vômito ocorrido quando estava no inferno, durante passagem pelo plano celestial. Referia que , devido a perda do estômago no inferno, tudo que ingeria ia para o outro plano, explicando o fato de nenhuma medicação ser eficaz para tratar o seu quadro. L e sua irmã negaram histórias familiar ou patológica prévia de qualquer transtorno psiquiátrico.
A paciente manteve quadro de anedonia e delírio niilista de conteúdo místico-religioso durante uso de Risperidona e Olanzapina . Mas, após introdução da Clozapina, a paciente apresentou importante melhora do quadro delirante e remissão dos pensamentos de morte.

Discussão

Jules Cotard, em 1880, descreveu o caso da "Madame X", uma mulher de 43 anos que apresentava um "delírio hipocondríaco numa forma grave de melancolia ansiosa" que foram seguidos de várias publicações a respeito da síndrome. Após sua morte, autores reconheceram sua contribuição e nomearam essa condição, que tinha como principais características os delírios niilistas, nos quais o paciente nega sua própria existência ou a existência de partes do seu corpo, como Síndrome de Cotard. A epidemiologia é incerta pois a maioria dos relatos são baseados em casos únicos e poucas coortes foram publicadas sobre o tema. O manejo, por sua vez, é desafiante, pois não há dados na literatura suficientes para sistematizar um tratamento eficaz para a síndrome.

Comentários finais

No caso relatado, L não apresentava alteração de exames de imagem ou laboratoriais, excluindo alteração orgânica de base. De acordo com a classificação criada por Berrios e Luque, o caso relatado seria uma "síndrome de Cotard puro", estando nosologicamente mais próximos da psicose. Devido à indisponibilidade de eletroconvulsoterapia, a clozapina foi iniciada segundo protocolo de Esquizofrenia Resistente. A síndrome envolve questões médicas, psicológicas e filosóficas que talvez expliquem as perplexidades duradouras sobre sua natureza, restando muito a ser feito para a sua compreensão.

Palavras-Chave

Cotard, psicose, clozapina

Área

Esquizofrenia/Psicoses

Autores

GLAUCE GABRIELA ANSELMO SANTOS, DEBORA ARAUJO MENDES VILELA, VINICIUS FERNANDES DE FREITAS, RODRIGO DE ALMEIDA LUZ, KARINA MAYUMI KAWAKAMI, VITOR DE SOUZA VANO, ARTHUR LOPES RIBEIRO PENIDO, KALIL DUAILIBI