Dados do Trabalho
Título
Complicações Neurológicas e Neuropsiquiátricas do COVID-19: Um relato de caso
Apresentação do caso
Paciente do sexo feminino, 38 anos, com histórico de trombose venosa cerebral há 2 anos, sem sequelas, com história familiar de transtorno de ansiedade, sem uso de substâncias psicoativas. Há 16 dias foi testada positivo para SARS-CoV 2, levada ao hospital com episódios de dormência em dimídio esquerdo. Exames de neuroimagem detectaram quadro sugestivo de vasculite, sendo tratada com pulsoterapia com metilprednisolona 1g/dia por 5 dias, quando apresentou melhora e recebeu alta. No dia seguinte apresenta novo episódio de paresia e novas lesões à imagem, introduzida corticoterapia oral com prednisona 1mg/kg/dia, anticoagulação e imunoglobulina humana 400 mg/kg/dia por 5 dias. Nova lesão cerebral é detectada, sendo introduzido Rituximabe. O exame do estado mental apresentava alterações após 26 dias do teste do Covid positivo, manifestando irritabilidade, labilidade emocional, humor expansivo, hostilidade, pensamento acelerado, evangelizando aos que entravam no quarto, e não colaborando com a equipe de enfermagem. Foi tratada com ácido valproico 500 mg de 12/12 horas, risperidona 2 mg de 12/12 horas e alprazolam 1 mg à noite, evoluindo com melhora gradativa dos sintomas de mania. As medicações foram desmamadas e a paciente encaminhada para acompanhamento ambulatorial.
Discussão
Estudos prévios ilustraram uma associação de sintomas neuropsiquiátricos com infecção por COVID-19. Foram descritas manifestações neurológicas em quase metade daqueles com infecção grave no relatório inicial de 217 pacientes hospitalizados em Wuhan, China. Potenciais mecanismos incluem a secreção de citocinas que podem alterar células endoteliais e causar estado de hipercoagulabilidade; além da infiltração viral no Sistema Nervoso e autoimunidade pós-infecciosa. Há evidência de efeitos neuropsiquiátricos após terapia com corticosteróides, incluindo distúrbios cognitivos, delírio, hipomania, mania, depressão. Tais efeitos são tipicamente agudos e remitem após o tratamento. Nesse caso, a paciente evoluiu com melhora gradativa dos sintomas maniformes, simultaneamente ao desmame das medicações.
Comentários finais
Apesar de ser possível que o episódio represente um primeiro episódio de doença psiquiátrica primária, o diagnóstico simultâneo de COVID-19 e a evidência de vasculite associam a infecção viral à casuística. A modalidade de tratamento ideal para manifestações neuropsiquiátricas de COVID-19 e o prognóstico a longo prazo ainda demandam maiores investigações.
Palavras-Chave
COVID- 19; Neuropsiquiatria; Transtorno Bipolar
Área
Doenças cerebrovasculares
Autores
VITÓRIA PALAZONI VIEGAS MENDONÇA, MARIA NATÁLIA DA SILVA MONTAVÃO, TÁSSIA MAYARA CARDOSO MAYARA CARDOSO RODRIGUES ROLLEMBERG