Dados do Trabalho


Título

O uso da linguagem silenciosa no diagnóstico precoce de abuso infantil

Apresentação do caso

Paciente do sexo masculino, 4 anos, residente da cidade de Serrana-SP, veio em consulta psicológica através de encaminhamento emergencial relacionado a queixas de comportamento agressivo e enurese noturna. A criança vem acompanhada pelo pai biológico e pela avó paterna, que relata que o mesmo tem medo de ficar sozinho em casa com a mãe, e somente mostra-se tranquilo no quarto, desde que esteja com seu cachorro. Sua genitora, 41 anos, é etilista crônica e faz tratamento psiquiátrico irregular. O genitor possui 36 anos e trabalha como técnico em eletrônica.
Durante a consulta com a neuropsicóloga, foi questionado à família sobre a ausência da mãe do paciente, e o pai respondeu que ela apoia e aceita as consultas do filho. Entretanto, através da linguagem silenciosa, foi percebido de maneira precoce, por meio das trajetórias oculares do pai e pela mudança da vocalização, que a informação não era verídica. Outro ponto que chamou a atenção foi a quebra de padrão em duas consultas diferentes. No primeiro contato, a criança se mostrou disposta e alegre, já no segundo, a neuropsicóloga percebeu atitude esquiva e microexpressões de medo, como arquear sobrancelhas, testa franzida e boca entreaberta quando questionada sobre a opinião da mãe quanto às suas consultas.
No final da consulta, a avó paterna relata que a mãe oferece bebida alcoólica para a criança e que a mesma é contrária e não apoia as consultas do filho, confirmando as suspeitas que a neuropsicóloga inferiu desde o início. Diante do abuso da mãe e negligência por parte do pai, o caso foi encaminhado para um perito.

Discussão

A avaliação clínica da saúde mental na infância e adolescência depende sobremaneira do relato apresentado pelos respectivos pais e responsáveis. Porém, essas inferências podem não representar a realidade do paciente. Por outro lado, a veracidade de um discurso pode ser avaliada pela coerência entre expressões verbais e não verbais. Assim sendo, profissionais que desenvolvem habilidades específicas, para perceber essas distinções podem constatar precocemente casos de negligência ou abuso na infância.

Comentários finais

O relato acima visa ressaltar a importância da capacitação de profissionais que atendem crianças e adolescentes que demandam cuidados em saúde mental, visto que as habilidades relativas à percepção de sinais silenciosos podem ser vitais para a detecção precoce de abuso e negligência por parte dos genitores.

Palavras-Chave

linguagem silenciosa, abuso infântil, neuropsicologia

Área

Neuropsicologia

Autores

RENATO ABRITTA ZACARIAS, ARIANE AMBRIZZI, RICARDO VENTURA, THAÍS TAGLIARI BARBISAN, LETÍCIA DOS SANTOS NUNES