Dados do Trabalho
Título
A história da mulher que conversa com a TV
Apresentação do caso
Paciente feminino, 67 anos, divorciada,, aposentada, natural de Cachoeira de Itapemirim (ES) e procedente de São Paulo (SP), encaminhada da unidade básica em 2018 por piora da memória. Paciente apresenta episódios de descontrole emocional, relacionados a situações de ansiedade e estresse, associados a tremores de extremidades em membros, de repouso, posturais e cinéticos que desaparecem após poucos minutos, além de piora cognitiva progressiva frente a situações emocionalmente estressantes. Há ainda piora progressiva no domínio da memória recente, episódios de confusão e desatenção, deteriorização das habilidades executivas, encurtamento dos passos da marcha, riso imotivado, alucinações noturnas e sonhos vívidos. Sintomas flutuam com melhora da retenção das informações no período matutino. No que tange a queixa de alucinações, filha relata que "a mãe conversa com a televisão; dá bom dia e boa noite aos apresentadores; não aceita comer por vergonha dos apresentadores estarem a olhando; diz que a filha é mal educada por não oferecer comida aos apresentadores; filha diz que tem que mentir dizendo pra mãe que os apresentadores já comeram; não pode falar com ela enquanto vê a televisão porque vai atrapalhar os apresentadores e é falta de educação; não pode desligar a televisão senão a mãe fica brava; diz que é amiga dos apresentadores, que conversa com eles; já disse aos vizinhos que estavam vendendo drogas ilícitas na casa dela após assistir a um programa policial". Paciente em uso de donepezila 10mg, memantina 10 mg, sertralina 50 mg e levodopa 100/25.
Ao exame neurológico, temporalmente desorientada, fala com conteúdos pouco coerentes, fáscies hipomímica, tremor em roda denteada bilateral, instabilidade postural estática, bradicinesia, reflexos osteotendinosos hipoativos e simétricos e marcha bradicinética.
Discussão
Demência por corpos de Lewy é a segunda mais comum forma de demência neurodegenerativa em indivíduos maiores de 65 anos. É caracterizada pela presença de estruturas conhecidas como corpos de Lewy (inclusões intraneuronais compostas por agregados de α-sinucleína e ubiquitina) em diferentes regiões do sistema nervoso. Flutuações cognitivas, alucinações visuais recorrentes e sintomas extrapiramidais motores são as principais características clínicas e a ausência dessa tríade se manifesta na minoria dos casos da doença.
Comentários finais
Trata-se de um caso de Doença de Lewy com predomínio alucinatório no qual a paciente confunde a vida real e o que vê na televisão.
Palavras-Chave
Lewy
Alucinação
Demência
Área
Neuropsiquiatria geriátrica
Autores
CAROLINA GRIÃO MORBIN, ANNA BEATRIZ CAVASIN DE SOUZA, DIOGO HADDAD DOS SANTOS, YNGRID DIEGUEZ FERREIRA