Dados do Trabalho
Título
Um caso de Doença Priônica associada a uma variante no gene PRNP rara no Brasil
Apresentação do caso
Paciente feminina, brasileira, começou com quadro progressivo de afasia motora aos 67 anos. Logo, começaram disfunções executivas, choro diário e desorientação espacial. Sem achados motores inicialmente, mas posteriormente com piramidalismo e mioclonias. Evoluiu de forma progressiva, já encontrando-se dependente de terceiros, cadeirante e com mutismo. Sem outros casos semelhantes na família e pais não consanguíneos. A ressonância magnética (RM) de crânio demonstrou alterações sugestivas de doença priônica (extensas áreas corticais de restrição a difusão esparsas pelo encéfalo, de forma assimétrica, predominando nos lobos frontal e parietal à esquerda, com aumento de sinal em T2/FLAIR) e eletroencefalograma (EEG) normal. Líquido cefalorraquidiano (LCR) com a proteína 14-3-3 alterada (56.108 mg/dL). Realizou análise genética através de sequenciamento do Exoma que mostrou a variante c.538G>A (p.Val180Ile) no gene PRNP, em heterozigose, classificada como patogênica. Diagnosticou-se então Doença de Creutzfeldt-Jakob familiar.
Discussão
A Doença de Creutzfeldt-Jakob, também conhecida como encefalopatia espongiforme, possui forma esporádica (85%), hereditária (15%) e infecciosa (1%), sendo causada por um príon (proteína patológica codificada pelo gene PRNP em humanos). A variante V180I é comum no Japão, raramente observada em outros países; no Brasil, somente um caso foi relatado. Em decorrência desta, os sintomas tendem a iniciar em idade mais avançada, com progressão mais insidiosa, sem história familiar e sem mioclonias, podendo haver sinais cerebelares e piramidais. O EEG geralmente não apresenta os achados característicos e a RM mostra principalmente hiperintensidades corticais, podendo haver alteração de proteína 14-3-3 no LCR. A sobrevida é de 23 a 27 meses, aproximadamente.
Comentários finais
A variante V180I produz fenótipo diferente do geralmente observado nos quadros familiais. Os fatores contribuintes para estas variações fenotípicas ainda não são entendidos. O relato de mais casos associados a esta variante pode ajudar a compreender melhor a fisiopatologia desta doença sem tratamento efetivo até o momento.
Palavras-Chave
proteínas priônicas. Doença de Creutzfeldt-Jacob
Área
Outros Transtornos Neurológicos
Autores
BIBIANA ANDRADE LUTZKY, ALINE FARIA SILVEIRA, PETERSON FRANCISCO JUCHEM DE SÁ, DJULIA BROMBILLA FELTRIN, HELENA FUSSIGER